Havia duas meninas, Paula e Júlia, grandes amigas, grandes comedoras de chocolate, grandes leitoras.
Muitas vezes, Júlia e Paula iam à biblioteca da Rua das Caravelas e mergulhavam os narizes, as sardas, os olhos, toda a cabeça (Paula era loura, Júlia morena), nos livros de aventuras e não as levantavam até as histórias acabarem, ou então porque já era tarde e a biblioteca tinha de fechar.
Apenas uma vez por semana, à sexta-feira, Paula e Júlia podiam ir juntas à biblioteca, e isto porque frequentavam escolas diferentes, com horários diferentes. Assim, normalmente, Paula ia às terças e quintas-feiras, Júlia às segundas e quartas-feiras. Mas à sexta-feira iam juntas e liam no silêncio quente da biblioteca, que cheirava a papel antigo, a madeira e cola, e também um pouco a verbena.
Porque cheirava a biblioteca a verbena?
Porque a Dona Luísa, a bibliotecária, que tinha os cabelos de uma cor entre o louro e o moreno e os olhos claramente verdes, usava um perfume de verbena que se misturava com os outros cheiros da biblioteca da Rua das Caravelas.
Em matéria de leituras, as duas amigas também tinham os mesmos gostos: os livros que agradavam a Júlia também agradavam a Paula; os que não agradavam a Paula também não agradavam a Júlia. Às vezes, as duas meninas liam o mesmo livro em dias alternados, para depois, à sexta-feira, continuarem ou acabarem de o ler, com as cabeças juntas sobre a grande mesa de madeira clara da biblioteca, virando cada uma a sua página.
Na verdade, o regulamento da biblioteca não permitia que dois leitores lessem juntos o mesmo livro: mas a Dona Luísa, à sexta-feira, fechava os olhos, porque Júlia e Paula eram as leitoras mais fiéis da biblioteca e também porque vê-las com as cabeças juntas e os olhos paralelos sobre as linhas do livro era um espectáculo delicioso.
Roberto Piumini, Um Amor de Livro