segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A NOITE DE NATAL DA ISA E DA LISA

O presépio não tinha muitas figuras. Havia o Menino Jesus, a Nossa Senhora e o S. José, que eram o principal; mas a Lisa e a Isa bem gostariam de ter comprado mais algumas.
(...) Para a árvore é que havia mais dificuldade. Estrelas e enfeites, faziam-se.
Bastava uma tesoura e qualquer papel bonito para os recortar. Mas para pôr onde? Pedir ao pai que fosse debaixo de chuva cortar um pinheiro? Nem pensar!
– Nas terras onde não há pinheiros como é que fazem árvores de Natal?
– Com outras árvores, se calhar – respondeu o pai.
– Se tivéssemos, ao menos, um ramo, a gente cá se arranjava...
– Está bem – disse o pai. – Logo, quando for deitar a palha aos animais, hei-de ver se encontro qualquer coisa que sirva.
Pouco antes do jantar entrou em casa, e trazia um galho de oliveira brava.
– Aqui têm. Era só o que havia.
Realmente não podia dizer-se que o Natal da Isa e da Lisa seria naquele ano um Natal igual ao de toda a gente. Primeiro, o presépio tão diferente dos outros; agora, a árvore de Natal!
As pequenas meteram o ramo de oliveira numa jarra, enfeitaram-no com as bolinhas brilhantes e os fios que tinham guardado do outro ano, e com mais meia dúzia de estrelas recortadas, ficou uma árvore de Natal maravilhosa.
Ninguém pensou nisso, mas um ramo de oliveira a servir de árvore de Natal era afinal a coisa mais acertada do mundo porque o Natal é tempo de paz, e a oliveira também significa a paz.
Havia dificuldades, mas felizmente tudo se resolvia.
Só a chuva é que não havia meio de parar.
A Isa ouviu a mãe dizer em voz baixa ao pai:
– Há três dias que chove. Queira Deus que não venha aí uma cheia.
– Não penses o pior, Maria; e sobretudo não assustes as pequenas – respondeu o pai, também em voz baixa.
A Isa ficou preocupada, mas entretida com os arranjos de Natal esqueceu-se, e não chegou a contar nada daquilo à irmã.
A noite veio depressa como é costume no Inverno, e o jantar reuniu a família à roda da mesa.
(...) Quando se aproximava a meia-noite foram buscar os presentes.
Embora o pai e a mãe se sentissem preocupados, disfarçavam tão bem que nem à Lisa nem à Isa lhes passava pela cabeça que a noite podia esconder perigos.
Estavam tão felizes a dar e a receber presentes!
A mãe ofereceu a cada uma um cachecol de malha nas cores da moda: o da Isa, rosa vivo e preto; o da Lisa, verde e azul.
E a prenda do pai o que seria?
– Vou buscá-la.
Saiu da sala de jantar e voltou com um grande embrulho de papel castanho.
Parecia um caixote.
Mas quando o colocou em cima da mesa, ouviu-se lá dentro qualquer coisa a restolhar.
– Ai, não diga que são ratos!... – gritou a Lisa, embora não estivesse convencida do que dizia.
A Isa, mais corajosa (ou mais curiosa?) deitou a mão ao papel e rasgou-o.
Apareceu então uma gaiola de cana...
– Os pombinhos!
– Que bom!

Maria Isabel de Mendonça Soares, De Inverno Também Faz Sol, Desabrochar (texto com supressões)

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