quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Tradições Natalícias- O presépio


O presépio é hoje em dia um dos grandes símbolos religiosos, que retrata o Natal e o nascimento de Jesus.

Há quem refira que o presépio provém do século terceiro, onde peregrinações eram feitas à gruta onde Jesus nasceu.

Representações artísticas surgiram no século a seguir como pinturas, frescos entre outros, mas a data de 1223 é para muitos o início desta tradição.

São Francisco de Assis será então o autor do presépio, pois nesse ano, festejou o Natal na floresta de Greccio, levando consigo animais como, bois, vacas, burros, de forma a retratar o que tinha acontecido nessa noite aos seus cidadãos, expandindo o interesse das pessoas por retratar o Natal.

No século XV, com o culminar de um grande interesse pela data, criaram o presépio como hoje o conhecemos, deixando para trás as pinturas das igrejas.

O presépio tem como principal característica, a mobilidade: todas as peças podem mover-se e serem vistas de vários ângulos, dando liberdade para individualmente recriar o seu próprio presépio.

No século seguinte surge o primeiro particular a tê-lo em casa, na propriedade da Duquesa de Amalfi. A partir do século XVIII, a tradição insere-se em toda a Península Ibérica alastrando-se por toda a Europa.

Actualmente é um costume de inúmeras culturas que marca o Natal, existindo presépios para todos os gostos, desde miniaturas a personagens em tamanho real, e muitas vezes uma representação humana do acontecimento.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Tradições Natalícias- A Árvore de Natal


Antecedentes

A Árvore de Natal é um pinheiro ou abeto, enfeitado e iluminado, especialmente nas casas particulares, na noite de Natal.

A tradição da Árvore de Natal tem raízes muito mais longínquas do que o próprio Natal.

Os romanos enfeitavam árvores em honra de Saturno, deus da agricultura, mais ou menos na mesma época em que hoje preparamos a Árvore de Natal. Os egípcios traziam galhos verdes de palmeiras para dentro de suas casas no dia mais curto do ano (que é em Dezembro), como símbolo de triunfo da vida sobre a morte. Nas culturas célticas, os druidas tinham o costume de decorar velhos carvalhos com maças douradas para festividades também celebradas na mesma época do ano.

Segundo a tradição, S. Bonifácio, no século VII, pregava na Turíngia (uma região da Alemanha) e usava o perfil triangular dos abetos com símbolo da Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo). Assim, o carvalho, até então considerado como símbolo divino, foi substituído pelo triangular abeto.

Na Europa Central, no século XII, penduravam-se árvores com o ápice para baixo em resultado da mesma simbologia triangular da Santíssima Trindade.

Árvore de Natal como hoje a conhecemos

A primeira referência a uma “Árvore de Natal” surgiu no século XVI e foi nesta altura que ela se vulgarizou na Europa Central, há notícias de árvores de Natal na Lituânia em 1510.

Diz-se que foi Lutero (1483-1546), autor da reforma protestante, que após um passeio, pela floresta no Inverno, numa noite de céu limpo e de estrelas brilhantes trouxe essa imagem à família sob a forma de Árvore de Natal, com uma estrela brilhante no topo e decorada com velas, isto porque para ele o céu devia ter estado assim no dia do nascimento do Menino Jesus.

O costume começou a enraizar-se. Na Alemanha, as famílias, ricas e pobres, decoravam as suas árvores com frutos, doces e flores de papel (as flores vermelhas representavam o conhecimento e as brancas representavam a inocência). Isto permitiu que surgisse uma indústria de decorações de Natal, em que a Turíngia se especializou.

No início do século XVII, a Grã-Bretanha começou a importar da Alemanha a tradição da Árvore de Natal pelas mãos dos monarcas de Hannover. Contudo a tradição só se consolidou nas Ilhas Britânicas após a publicação pela “Illustrated London News”, de uma imagem da Rainha Vitória e Alberto com os seus filhos, junto à Árvore de Natal no castelo de Windsor, no Natal de 1846.

Esta tradição espalhou-se por toda a Europa e chegou aos EUA aquando da guerra da independência pelas mãos dos soldados alemães. A tradição não se consolidou uniformemente dada a divergência de povos e culturas. Contudo, em 1856, a Casa Branca foi enfeitada com uma árvore de Natal e a tradição mantém-se desde 1923.

Árvore de Natal em Portugal

Como o uso da árvore de Natal tem origem pagã, este predomina nos países nórdicos e no mundo anglo-saxónico. Nos países católicos, como Portugal, a tradição da árvore de Natal foi surgindo pouco a pouco ao lado dos já tradicionais presépios

Contudo, em Portugal, a aceitação da Árvore de Natal é recente quando comparada com os restantes países. Assim, entre nós, o presépio foi durante muito tempo a única decoração de Natal.

Até aos anos 50, a Árvore de Natal era até mal vista nas cidades e nos campos, era pura e simplesmente ignorada. Contudo, hoje em dia, a Árvore de Natal já faz parte da tradição natalícia portuguesa e já todos se renderam aos Pinheirinhos de Natal!

sábado, 18 de dezembro de 2010

Tradições Natalícias- Pai Natal


O Pai Natal é associado à ideia de um homem já com uma certa idade, gorducho, de faces rosadas, com uma grande barba branca, que veste um fato vermelho e que conduz um trenó puxado por renas que conseguem voar mesmo não tendo asas. Segundo a lenda, na noite de Natal este simpático senhor visita todas as casas, desce pela chaminé e deixa presentes a todas as crianças que se comportaram bem durante todo o ano.

A personagem do Pai Natal baseia-se em S. Nicolau e a ideia de um velhinho de barba branca num trenó puxado por renas (o mesmo transporte que é usado na Escandinávia) foi introduzida por Clement Clark More, um ministro episcopal, num poema intitulado de "An account of a visit from Saint Nicolas" (tradução: Um relato da visita de S. Nicolau) que começava de seguinte modo “'The night before Christmas” (que em português significa "Na noite antes do Natal"), em 1822. More escreveu este poema para as suas filhas e hesitou em publicá-lo porque achou que dava uma imagem frívola do Pai Natal. Contudo, uma senhora, Harriet Butler, teve acesso ao poema através do filho de More e decidiu levá-lo ao editor do jornal Troy Sentinel, em Nova Iorque, o qual publicou o poema no Natal do ano seguinte em 1823. A partir daí, vários jornais e revistas publicaram o poema, mas sempre sem se mencionar o seu autor. Só em 1844, é que More reclamou a autoria do poema!

O primeiro desenho que retratava a figura do Pai Natal tal como hoje o conhecemos foi feito por Thomas Nast e foi publicado no semanário “Harper’s Weekly” no ano de 1866. Assim, a criação da imagem actual do Pai Natal não é da autoria da Coca-Cola, como muitos pensam.

Antecedentes


As raízes da história do Pai Natal remontam ao folclore europeu e influenciaram as celebrações do Natal por todo o mundo.

A figura do Pai Natal baseia-se em S. Nicolau, padroeiro da Rússia, da Grécia, dos marinheiros e das crianças.

A única coisa que se sabe com certeza sobre a vida de S. Nicolau é que este foi bispo de Mira na Lícia, que se situa no sudoeste da Ásia Menor, no século IV d.C.

Antes de estar relacionado com as tradições e lendas de Natal, S. Nicolau era conhecido por salvar marinheiros das tempestades, defender crianças e por oferecer generosos presentes aos mais pobres.

Pode-se duvidar da autenticidade de muitas das histórias relacionadas com S. Nicolau, mas mesmo assim a lenda espalhou-se por toda a Europa e a sua figura ficou associada a um distribuidor de presentes. Os símbolos de S. Nicolau são três bolas de ouro. Diz a lenda que numa ocasião ele salvou da prostituição três filhas de um homem pobre ao oferecer-lhes, em três ocasiões diferentes, um saco de ouro; uma outra lenda é que depois da sua morte salvou três oficiais da morte aparecendo-lhes, para isso, em sonhos.

O dia de S. Nicolau era originalmente celebrado no dia 6 de Dezembro, sendo este o dia em que se recebiam os presentes. Contudo, depois da reforma, os protestantes germânicos decidiram dar especial atenção a ChristKindl, ou seja, ao Menino Jesus, transformando-o no “distribuidor” de presentes e transferindo a entrega de presentes para a Sua festa a 25 de Dezembro. Quando a tradição de S. Nicolau prevaleceu, esta ficou colocada no próprio dia de Natal. Assim, o dia 25 de Dezembro passou a englobar o Natal e o dia de S. Nicolau. Contudo, em 1969, devido à vida do santo estar escassamente documentada, o Papa Paulo VI ordenou que a festa de S. Nicolau fosse retirada do Calendário Oficial Católico Romano.

Mesmo assim, todos os anos, na época de Natal, em muitas partes do mundo, anúncios, cartões de boas festas, decorações sazonais e a presença de pessoas vestidas de Pai Natal documentam a moderna lenda do Santa Claus (contracção de Santus Nicholaus). Crianças de todo o Mundo escrevem cartas ao Pai Natal, nas quais dizem quais são os seus desejos, e, na noite de Natal, algumas deixam-lhe comida e bebida para uma rápida merenda.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Três bastonadas


Esta história aconteceu num tempo que até custa a recordar. Dói. Dói muito. Mas há dores e ardores que fazem bem, que curam. Por exemplo, um pacho de água oxigenada em cima de um arranhão (ou mesmo uma gota de álcool) desinfecta. Claro que dói, mas sopra-se, alivia e passa.
É o que vai acontecer com esta história, prometo.
Nesse tempo, os filhos de servos eram servos também. Os pais trabalhavam, nos campos ou nos castelos dos senhores fidalgos, e os filhos, mal podiam carregar com um balde de água ou manejar uma enxada, eram também obrigados a trabalhar. Escolas? Não havia. Leis que protegessem a infância? Estava-se ainda muito longe de pensar nisso.
Vamos chamar José ao rapaz da nossa história. É órfão e servo. Vai ser castigado. Injustamente. Uns figos que estavam a secar na eira desapareceram, roubados por algum guloso, e as culpas foram cair no José. Porquê? Porque sim. Era o mais novo dos trabalhadores. Só podia ser ele.
De nada lhe serviu gritar a sua inocência. Quem acredita num garoto, ainda por cima servo, um desclassificado, um ranhoso?
A mando do senhor, o capataz ferrou-lhe três bastonadas nos ossos, à vista de todos, para que servisse de exemplo. José chorou toda a noite, de dor, de humilhação, de revolta.
Voltou a chorar, dias depois, quando soube que o autor do roubo dos figos tinha sido o filho mais novo do senhor. Até houve quem se risse. Entre eles, o filho mais novo do senhor. As bastonadas, essas, não podiam ser apagadas das costas do servo José como quem apaga, numa folha, um risco errado.
José jurou que havia de vingar-se, demorasse o que demorasse a vingança. Eles, capataz, senhor e filho, iam pagar as três bastonadas e a vergonha.
O mundo deu muita volta. José cresceu. Puseram-lhe uma lança na mão e disseram que ele era soldado. Como soldado andou por batalhas confusas, dando e levando, sem saber ao certo à conta de quem combatia. Os mandantes da guerra ora se aliavam ora se zangavam e os respectivos exércitos eram ajustados ou retalhados, ao sabor dos caprichos dos senhores.
Um dia, José, no meio de uma refrega, viu-se diante do filho do senhor, tão homem feito como ele. Vinha a cavalo, pronto a enfrentar outro cavaleiro da sua estirpe. José, com o cabo da lança, deu-lhe uma bastonada que quase o derribou do cavalo. Depois, soldado apeado, continuou a correria atrás do pendão, indiferente ao destino do adversário.
Só lhe faltavam duas bastonadas.
Aconteceu que no fim dessa batalha, o cirurgião do exército em que o José estava alistado precisou de ajudantes. José ofereceu-se e tão bem se houve a cuidar dos feridos que o mestre cirurgião o pôs ao seu serviço.
Quando, finalmente, voltou a paz àquelas terras, o cirurgião não quis desfazer-se do aprendiz. José aprendeu com o mestre tudo o que ele tinha para ensinar. Foi assim que o antigo servo órfão acabou por tomar, por sua conta e risco, o título de cirurgião.
Naquele tempo, como já disse, não havia escolas. Davam-no como um grande doutor.
Vieram, uma vez, ter com ele, a pedido do castelão, aflito com um osso de galinhola atravessado nos gorgomilos.
José foi visitá-lo e deparou com o senhor que ordenara as bastonadas. O homem estava quase sufocado.
- Tragam-me um pau - pediu José, diante do doente. - Para se livrar dessa aflição, tem de levar uma bastonada.
O senhor ofereceu as costas de bom grado e zás, apanhou uma paulada e tanto. Parece que cuspiu o osso, mas José já não quis saber. Também não tinha levado nada pela consulta.
Só faltava uma bastonada.
Ele a sair do castelo e um moleiro a vir ter com ele aos gritos.
- O meu pai estava a ajudar-me a desmanchar o engenho do moinho e cai-lhe a mó em cima de uma perna. Que desgraça!
José acudiu e foi dar com o antigo capataz a torcer-se de dores, com uma perna esmagada pela mó do moinho.
- Traga-me um pau bem grande - pediu o cirurgião José, que antes tinha sido José, menino órfão, servo castigado inocente.
O filho do capataz trouxe um pau.
- Maior - exigiu o cirurgião José.
O filho do capataz foi buscar. Quando veio com uma viga de todo o tamanho, José disse-lhe:
- Agora ajude-me que eu sozinho não consigo.
Entalou o madeiro entre o chão e a mó, os dois em peso fizeram de alavanca e assim conseguiram arredar a perna do capataz do aperto em que estava.
- Salva-se? - perguntou o filho do capataz.
O cirurgião José olhou para a perna ensanguentada e para o desfalecido capataz e respondeu:
- Salva-se.
E tratou-o. E salvou-o.
Esta bastonada foi a que lhe deu mais gosto pagar.

António Torrado
in http://kids.sapo.pt/brincar/historias/historia_do_dia/artigo/tres_bastonadas

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O Avô e o Neto- Irmãos Grimm


Era uma vez um velho muito velho, quase cego e surdo, com os joelhos tremendo. Quando se sentava à mesa
para comer, mal conseguia segurar a colher. Derramava sopa na toalha e, quando, afinal, acertava a boca,deixava sempre cair um bocado pelos cantos.
O filho e a nora dele achavam que era uma porcaria e ficavam com nojo. Finalmente, acabaram fazendo o velho se sentar num canto atrás do fogão. Levavam comida para ele numa tigela de barro e - o que era pior - nem lhe davam bastante.

O velho olhava para a mesa com os olhos compridos, muitas vezes cheios de lágrimas.
Um dia, suas mãos tremeram tanto que ele deixou a tigela cair no chão e ela se quebrou.

A mulher ralhou com ele, que não disse nada, só suspirou.
Depois ela comprou uma gamela de madeira bem baratinha e era aí que ele tinha que comer.

Um dia, quando estavam todos sentados na cozinha, o neto do velho, que era um menino de oito anos, estava brincando com uns pedaços de pau.
- O que é que você está fazendo? - perguntou o pai.
O menino respondeu:
- Estou fazendo um cocho, para papai e mamãe poderem comer quando eu crescer.

O marido e a mulher se olharam durante algum tempo e caíram no choro. Depois disso, trouxeram o avô de volta para a mesa. Desde então passaram a comer todos juntos e, mesmo quando o velho derramava alguma coisa, ninguém dizia nada.

[Irmãos Grimm
Tradução Ana Maria Machado