quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

O leão e o mosquito

Um leão ficou com muita raiva de um mosquito que não parava de zumbir ao redor de sua cabeça, mas o mosquito não ligou e disse-lhe:
— Pensas que vou ficar com medo de ti, só porque tu pensas que és o rei?
Depois voou na direcção do leão e deu-lhe uma picada muito forte no seu focinho.
Indignado, o leão deu uma patada no mosquito, mas a única coisa que conseguiu foi arranhar-se com as próprias garras.
O mosquito continuou a picar o leão, que começou a urrar como um louco. No fim, exausto, enfurecido e coberto de feridas provocadas por seus próprios dentes e garras, o leão rendeu-se . O mosquito foi-se embora zumbindo, para contar a todo mundo que tinha vencido o leão, mas embateu numa teia de aranha. Ali, o vencedor do rei dos animais encontrou seu triste fim, comido por uma aranha minúscula. Muitas vezes o menor de nossos inimigos é o mais terrível.
Moral:
O mais perigoso e feroz inimigo sempre é o que julgamos de menor importância.
Jean de La Fontaine

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

O galo e a pérola

Um Galo comilão andava pela quinta à procura de comer. De repente, viu uma coisa a brilhar no chão.
- Olá! Isto é para mim – pensou ele enquanto desenterrava o que encontrara.
Mas o que era aquilo? Nada mais, nada menos, do que uma pérola que alguém perdera. Desdenhoso, o Galo murmurou:
- Podes ser um tesouro para as pessoas que te apreciam. Mas, no que me diz respeito, trocava de bom grado uma espiga de milho por um punhado de pérolas iguais a ti.

Moral da história:
Nem todos apreciam do mesmo modo as coisas valiosas.
Fedro

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

A Leiteira e a bilha de leite

Rosinha, levando à cabeça um cântaro de leite, bem assente sobre uma rodilha, pretendia chegar, sem complicações, até à cidade. Ligeira e de saia arregaçada, caminhava a passos largos, tendo posto, nesse dia, para ficar mais leve, uma saia simples e sapatos rasos. Assim arranjada, a nossa leitura sonhava já, com o dinheiro do leite e com a maneira de o empregar; compraria um cento de ovos e deitaria três ninhadas.
Tudo correria bem, graças aos seus cuidados.
-É fácil - dizia ela - criar frangos à volta da minha casa. A raposa terá de ser muito esperta para me não deixar os suficientes para comprar um porco. O porco, a engordar, gastará pouco farelo; e, quando tiver um tamanho razoável, vendê-lo-ei e farei bom dinheiro. E quem me impedirá de pôr no estábulo, visto o preço a que estão, uma vaca e um vitelo, que hei-de ver saltar no meio da manada? Neste momento, Rosinha salta, também, entusiasmada. O leite cai: adeus vitelo, vaca, porco, ninhada! A dona destes bens, deixando, com um ar triste, a sua fortuna assim espalhada, vai desculpar-se junto de ser espancada.

Dela se fez esta engraçada narrativa.
Chamou-se-Ihe a Bilha de leite.
Que espírito não tem ilusões?
Quem não faz castelos no ar?

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

A galinha dos ovos de ouro

Certa manhã, um fazendeiro descobriu que a sua galinha tinha posto um ovo de ouro. Apanhou o ovo, correu para casa, mostrou-o à mulher, dizendo:
-Veja! Estamos ricos!
Levou o ovo ao mercado e vendeu-o por um bom preço.
Na manhã seguinte, a galinha pôs outro ovo de ouro, que o fazendeiro vendeu a melhor preço. E assim aconteceu durante muitos dias. Mas, quanto mais rico ficava o fazendeiro, mais dinheiro queria. E pensou:
"Se esta galinha põe ovos de ouro, dentro dela deve haver um tesouro!"
Matou a galinha e, por dentro, ela era igual a qualquer outra.

Moral:

Quem tudo quer tudo perde.

Esopo

domingo, 27 de janeiro de 2008

O VEADO E O CAÇADOR

Estava um Veado a beber numa ribeira, quando viu o seu reflexo na água. Reparou, então, que os seus cornos eram muito belos, mas as suas pernas muito delgadas. Pareceram-lhe as pernas mal, e ficou pesaroso de as ter, porém muito satisfeito com a formosura dos cornos. Ficou muito vaidoso e contente. Ainda bem não tinha saído da água, quando reparou num Caçador. Foi forçado a valer-se das pernas, que pouco antes desprezara, e elas puseram-no a salvo. Na sua correria para se salvar, embaraçou os cornos nos ramos de uma árvore. Sem saída, foi caçado. Vendo-se preso e ferido disse:
- Grande parvo fui. O que me era bom desvalorizei, fazendo muito caso do que me causou a morte.

Esopo

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

A Raposa e o Espinho

Certo dia, andava uma Raposa a trepar uma colina quando pôs uma pata em falso e escorregou. Para não cair, agarrou-se a um arbusto cujos espinhos se lhe enterraram nas patas. Bastante ferida queixou-se ao arbusto:
- Pedi-te ajuda e afinal fiquei bem pior do que se me tivesse deixado cair.
O arbusto interrompeu-a dizendo:
- Onde é que tinhas a cabeça quando te agarraste a mim? Não sabes que é meu costume magoar os outros?
Moral:
Nunca peças ajuda a quem tem por costume fazer mal.
Esopo

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

O homem que foi mordido por um cão

Certo dia, um homem foi mordido por um cão. Muito aflito, correu à procura de alguém que o tratasse.
Encontrou um amigo que lhe deu o seguinte conselho:
- Molha um pouco de pão no sangue da tua ferida e dá-o ao cão que te mordeu. É remédio santo. Verás que te curas num instante.
O homem que tinha sido mordido riu-se deste tratamento e respondeu:
- Se fizesse o que me dizes, estaria a convidar todos os cães da aldeia a morderem-me!

Moral:Não recompenses quem procedeu mal, pois, assim, incitas a que faça ainda pior.

Fedro

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Os cães famintos

Andavam uns cães famintos pelo campo quando, ao passarem por um rio, viram umas peles de animais à tona da água.
Como as não podiam alcançar, combinaram beber toda a água do rio. Pensavam que, assim, poderiam chegar-lhes. Beberam, beberam... e acabaram por rebentar!

Moral:

Não tentes fazer o que é impossível.

Fedro

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

O Lobo e o Cordeiro

Como naquele Verão fazia muito calor, um lobo dirigiu-se a um ribeirinho. Quando se preparava para mergulhar o focinho na água, ouviu um leve rumor de erva a mexer-se. Virou a cabeça nessa direcção e viu, mais adiante, um cordeirinho que bebia tranquilamente. “Vem mesmo a propósito!” – pensou o lobo de si para si. - “ Vim aqui para beber e encontro também o que comer...”Aclarou a voz, pôs um ar severo e exclamou:
-Eh! Tu aí!
-É comigo que está a falar, senhor? - respondeu o cordeiro. – Que deseja?
- O que é que desejo? Mas é evidente, meu malcriado! Não vês que ao beber me turvas a água? Nunca ninguém te ensinou a respeitar os mais velhos?
- Mas... senhor? Como pode dizer isso? Olhe como bebo com a ponta da língua... Além disso, com sua licença, eu estou mais abaixo e o senhor mais acima. A água passa primeiro por si e só depois por mim. Não é possível que esteja a incomodá-lo! – respondeu o cordeirinho com voz trémula.
- Histórias! Com a tua idade já me queres ensinar para que lado corre a água?
- Não, não é isso... só queria que reparasse...
- Qual reparar nem meio reparar! Olha que não me enganas! Pensas que te escapas, como no ano passado, quando andavas por aí a dizer mal da minha família? “Os lobos são assim... os lobos são assado...” Tiveste muita sorte por eu nunca te ter encontrado, senão já te tinha mostrado como são os lobos!
- Não sei quem lhe terá contado tal coisa, senhor, mas olhe que é falso, acredite. A prova é que no ano passado eu ainda não tinha nascido.
- Pois se não foste tu, foi o teu pai! - rosnou o lobo, saltando em cima do pobre inocente.

Moral

Para alguém decidido a fazer o mal a todo o custo, qualquer razão serve, ainda que seja uma mentira.

Esopo

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

O rato do campo e o rato da cidade

Um dia um rato do campo convidou o rato que morava na cidade para ir visitá-lo. O rato da cidade foi, mas não gostou da comida simples que lhe foi oferecida. Chamou então o rato do campo para acompanhá-lo na volta à cidade, prometendo mostrar-lhe o que era uma "boa vida".
E lá se foi o rato do campo para a cidade, onde ele lhe foi apresentada uma despensa repleta de iguarias como queijo, mel, cereais, figos e tâmaras.
Resolveram começar a comer na mesma hora mas, mal haviam iniciado, a porta da despensa se abriu e alguém entrou. Os dois ratinhos fugiram apavorados, e se esconderam no primeiro buraco apertado que encontraram. Quando acharam que o perigo tinha passado, e iam saindo do esconderijo, mais alguém entrou na despensa, e foi preciso fugir de novo. A essas alturas, o ratinho do campo já estava muito assustado e decidiu voltar para casa, onde podia comer em paz a sua comida simples.


Moral - Mais vale uma vida modesta com paz e sossego que todo o luxo do mundo com perigos e preocupações.

Esopo

domingo, 20 de janeiro de 2008

Esopo

Quem foi Esopo?

Esopo é conhecido pelas suas inúmeras fábulas. Existem diferentes versões para a sua identidade:

Primeira versão

Fabulista grego do século VI a.C. O local de seu nascimento é incerto Eventualmente morreu em Delfos. Na verdade, todos os dados referentes a Esopo são discutíveis e trata-se mais de uma personagem lendária do que histórica. A única certeza é que as fábulas lhe são atribuídas foram reunidas pela primeira vez por Demétrio de Falera em 325 a.C.. Ao que tudo indica, viajou pelo mundo antigo e conheceu o Egipto, a Babilónia e o Oriente. Concretamente, não há indícios seguros de que tenha escrito qualquer coisa. Entretanto, foi-lhe atribuído um conjunto de pequenas histórias, de carácter moral e alegórico, cujos papéis principais eram desenvolvidos por animais. Em Atenas do século V a.C., essas fábulas eram conhecidas. As suas fábulas sugerem normas de conduta que são exemplificadas pela acção dos animais (mas também de homens, deuses e mesmo coisas inanimadas). Esopo partia da cultura popular para compor seus escritos, que reflectem um carácter realista e irónico.

Segunda versão

Esopo era um escravo que viveu na Grécia há uns 3000 anos. Tornou-se famoso pelas suas pequenas histórias de animais, cada uma delas com um sentido e um ensinamento, e que mostram como proceder com inteligência. Os seus animais falam, cometem erros, são sábios ou tolos, maus ou bons, exactamente como os homens. A intenção de Esopo, nas suas fábulas, é mostrar como nós, homens, podemos agir. Dizem que as fábulas de um Esopo encantaram tanto o seu dono que este o libertou. Dizem que esse Esopo recebeu honrarias e foi recebido em palácios reais. As fábulas de Esopo, contadas e readaptadas pelos seus continuadores, como Fedro, La Fontaine e outros, tornaram-se parte de nossa linguagem diária. "Estão verdes", dizemos quando alguém quer alcançar coisas impossíveis - expressão que a raposa usou quando não conseguiu as uvas... Esopo nunca escreveu as suas histórias. Contava-as para o povo, que se encarregou de repeti-las. Mais de duzentos anos depois da morte de Esopo é que as fábulas foram escritas, e se reuniram às de vários Esopos. Noutros países além da Grécia, noutras civilizações e noutras épocas, sempre se inventaram fábulas que permaneceram anónimas. Assim, podemos dizer que em toda parte, a fábula é um conto de moralidade popular, uma lição de inteligência, de justiça, de astúcia, trazida até nós pelos nossos Esopos.

Fábulas atribuídas a Esopo

A Formiga e a Pomba
A Gansa dos Ovos de Ouro
A Mulher e a sua Galinha
A Mula
As Árvores e o Machado
As Lebres e as Rãs
O Asno, a Raposa, e o Leão
O Asno e o Velho Pastor
O Boi e a Rã
O Asno em Pele de Leão
O Cão e a sua Sombra
O Carvalho e os Juncos
O Cavalo e o Tratador de Cavalos
O Cego e o Filhote de Lobo
O Filhote de Cervo e a sua Mãe
O Galo e a Pedra Preciosa
O Galo de Briga e a Águia
O Gato e o Galo
O Ladrão e o Cão de Guarda
O Leão Apaixonado
O Leão e o Rato
O Leão e os Três Touros
A Lebre e o Cão de Caça
O Lobo e a Garça
O Cervo Doente
O Lobo e a Ovelha
O Cão Raivoso
O Corvo e o Jarro
O Leão, o Urso e a Raposa
A Raposa e as Uvas

sábado, 19 de janeiro de 2008

La Fontaine

Quem foi o francês Jean de La Fontaine, autor de fábulas que atravessam séculos?

Jean de La Fontaine. Nasceu a 13 de julho de 1621 na cidade francesa Château-Thierry, na região de Champagne. La Fontaine não ouviu o pai na hora de decidir o seu futuro profissional. Estudou e completou o curso de direito, mas ser advogado não era a sua vocação. Pensou em ser padre, entrou para um seminário e, pouco mais de um ano depois... desistiu! Aos 26 anos, La Fontaine estava casado. Onze anos depois, separou-se e foi viver em Paris. A sua sensibilidade despertou-o para a literatura e, com o apoio de mecenas, homens ricos que patrocinavam os artistas, dedicou-se às letras. Começou por escrever poemas. A sua primeira obra importante como escritor foi publicada em vários volumes a partir de 1665. Chamava-se Contos e destacava-se pela narrativa provocativa, cujo objectivo era divertir o leitor. O primeiro dos volumes recebeu o nome de Novelas em versos extraídos de Bocaccio e Ariosto. O último livro dessa série foi finalizado em 1667. Mas La Fontaine não parou por aí! Inspirado nas literaturas clássica e oriental, ele começou a escrever fábulas, isto é, histórias em que os animais são personagens que representam os seres humanos e as suas manias. Na Antiguidade, o fabulista mais famoso foi o grego Esopo. E foi em Esopo que La Fontaine se inspirou para escrever suas histórias. A série Fábulas foi publicada entre 1668 e 1694, totalizando 12 livros de contos, como "O lobo e o cordeiro", "A cigarra e a formiga" ou "O corvo e a raposa", entre outros.
Em 1684, La Fontaine foi nomeado membro da Academia Francesa por ter feito do classicismo francês uma das mais belas expressões literárias da época. Doze anos mais tarde, já bastante doente, decidiu resgatar seu interesse pela religião. Pensou em escrever uma obra sobre a fé, mas não chegou a fazê-lo. Morreu em 13 de abril de 1695, em Paris, deixando para as gerações futuras várias lições sobre a condição humana. Na introdução da sua primeira edição de Fábulas ele diz: "Sirvo-me de animais para ensinar os homens. Procuro tornar o vício ridículo por não poder atacá-lo com braço de Hércules. Algumas vezes oponho, através de uma dupla imagem, o vício à virtude, a tolice ao bom senso... Uma moral nua provoca o tédio. O conto faz passar o preceito com ele; nessa espécie de fingimento, é preciso instruir e agradar, pois contar por contar me parece de pouca monta."

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

O leão, a raposa e o rato.





Era um dia de Verão, o Sol ia alto no horizonte e o Leão dormia calmamente a sua sesta. Nisto, um Rato trepou para cima dele e desatou a correr. O Leão acordou sobressaltado e pôs-se às voltas sobre si mesmo, à procura do Rato. A Raposa, que o observava, criticou-o dizendo:
- Que grande Leão, cheio de medo de um Rato...
- Não é do Rato que tenho medo - respondeu-lhe o Leão. - Estou admirado com o seu à vontade e com a sua coragem.


Moral da história:
Nunca subestimes o valor dos outros.
Esopo

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

As fábulas

Como têm reparado nestes últimos tempos o nosso blogue está recheado de fábulas.



O que são fábulas? (Poderá perguntar o nosso leitor.)


As fábulas são histórias em que, geralmente, as personagens são animais, a quem são atribuídas características humanas, isto é, falam e agem como pessoas.As fábulas contém, sempre, uma lição de moral, que pode ser expressa por um ditado popular, um provérbio*.



Os fabulistas são as pessoas que escrevem fábulas.


Exemplo de fabulistas famosos:

Esopo

La Fontaine

Fedro




fig. Esopo
* O que é um provérbio?

Provérbio é um pensamento breve que indica, de maneira curta e precisa, uma verdade que pode ter muitas interpretações e aplicações.



Deixo-vos, então, aqui um desafio!


Faz uma recolha de provérbios subordinados ao tema "Os animais".


Aqui estão alguns exemplos:
"Gato escaldado de água fria tem medo."
"Cão que ladra não morde."



E entrega-os à professora Rita Batista. O aluno que entregar mais provérbios ganhará um prémio.



Participa! Contamos contigo.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

O cão e o seu reflexo no rio

Era uma vez um cão que encontrou um osso. Abocanhou-o e correu para casa para o saborear com calma. Pelo caminho, teve que passar por cima de uma tábua que unia as duas margens de um riacho.
Nisto, olhou para baixo e viu o seu reflexo na água. Pensando que era outro cão com um osso, resolveu roubar-lho. Para o assustar, abriu a boca e arreganhou-lhe os dentes. Ao fazê-lo, o osso caiu na água e foi arrastado pela corrente.


Moral da história:
Contenta-te com o que tens e não cobices o que pertence aos outros.
Fedro

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

O lobo e o cão

Certo dia, um Lobo só pele e osso encontrou um cão gordo, forte e com o pêlo muito lustroso. Via-se bem que não passava fome. O Lobo, admirado, quis saber onde é que ele conseguia obter tanta comida.
- Se me seguires, ficarás tão forte como eu - respondeu o cão. - O homem dar-te-á restos saborosos.
- Mas o que preciso de fazer em troca? - quis saber o Lobo.
- Muito pouco, na verdade - respondeu o Cão. - Uivar aos intrusos, agradar ao dono e adular os seus amigos. Só por isto receberás carne e outras iguarias muito bem cozinhadas. De vez em quando, receberás também festas no dorso.
O Lobo ficou encantado com a ideia e meteram-se ambos ao caminho. A dada altura, o Lobo reparou que o cão tinha o pescoço esfolado.
- O que tens no pescoço? - perguntou.
- Nada de grave. É da argola com que me prendem - explicou o Cão.
- Preso? Então não podes correr quando queres? - exclamou o Lobo. - Esse é um preço demasiado elevado: não troco a minha liberdade por toda a comida do mundo.
Dito isto, desatou a correr o mais depressa que pode para bem longe dali.


Moral da história:
A tua liberdade não tem preço.
La Fontaine

sábado, 12 de janeiro de 2008

A raposa e o javali

Estava um Javali na floresta a afiar os dentes numa árvore, quando apareceu uma Raposa. Vendo o que o Javali estava a fazer, perguntou-lhe:

- Por que estás a afiar os dentes? Os caçadores não saíram hoje e não vejo outro perigo por perto.

- É verdade, minha amiga - respondeu o Javali. - Mas, no momento em que a minha vida correr perigo preciso de usar os dentes e, então, será tarde demais para os afiar.

Moral da história:

Prepara-te para as dificuldades.

Esopo

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

As lebres e as rãs

Certo dia, uma Lebre queixou-se amargamente às amigas:
- Vivemos uma vida pavorosa porque temos medo de tudo: temos medo dos homens, dos cães, das águias, das raposas... enfim, somos obrigadas a dormir com um olho aberto e outro fechado, prontas para fugir.
Todas concordaram e lamentaram-se dizendo que mais valia morrerem do que viverem sempre assustadas, com medo de tudo e de todos.
Nisto, passaram por um charco. Quando as Rãs que aí viviam sentiram a sua aproximação, saltaram espavoridas para a água, fugindo delas.
Então, disse uma das Lebres:
- Amigas, deixemo-nos de lamentos! Vejam como também nós podemos assustar outros seres!


Moral da história:
Não há na terra um cobarde que não encontre outro mais cobarde ainda.
La Fontaine

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

A rã e o boi


Estavam duas Rãs à beira de um charco quando a mais nova comentou:
- Comadre, hoje vi um monstro terrível: era maior do que uma montanha, tinha chifres e uma longa cauda.
- O que viste foi apenas o Boi do lavrador - esclareceu a Rã mais velha. - E, além disso, não é assim tão grande... Eu posso ficar do tamanho dele. Ora observa.
Dito isto, começou a inchar e a esticar-se muito, muito...
- O Boi era tão grande como eu? - perguntou ela quando já estava tão grande como um Burro.
- Ó, muito maior! - respondeu a jovem Rã.
Então a Rã mais velha respirou fundo e inchou, inchou... até que rebentou.


Moral da história:
Mantém-te sempre no lugar que te corresponde.

Fedro

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

O pavão e a deusa Juno

Certo dia, o Pavão foi queixar-se à deusa Juno:
- Tenho uma plumagem maravilhosa, mas a minha voz não se compara com a do Rouxinol. Por que não me concedes uma voz igual à dele?
A deusa recusou, mas o Pavão insistiu:
- Sou a tua ave favorita. Por que não me dás o que te peço?
Já um pouco aborrecida com a conversa, a deusa respondeu-lhe:
- Deves agradecer o muito que já tens. Não podes ser o melhor em tudo!


Moral da história:
Aproveita bem as tuas qualidades e não invejes as dos outros.
Fedro

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

A Tartaruga e a Águia

A tartaruga passava o tempo a lamentar-se por ser lenta e desajeitada. Como gostava de fazer comparações, adorava a beleza e a ligeireza com que se moviam as aves. Não se conformava com a sua sorte e chegava a ficar muito triste.
- Que chatice ter que me arrastar pelo solo, passo a passo e com esforço! Ah! Se eu pudesse voar, nem que fosse apenas uma vez! - dizia ele repetidamente, dia após dia.
Finalmente, num dia de Outono, conseguiu convencer a águia a levá-la para um passeio pelas alturas. Suavemente e com grande majestade, a águia e a tartaruga elevaram-se no céu, naquela tarde. O animalzinho transbordava de felicidade, ao ver lá em baixo, tão longe, a terra e seus habitantes.
- Ah, que maravilha! Como estou feliz! Que inveja não devem sentir as outras tartarugas vendo-me voar tão alto! Realmente, sou uma tartaruga única! -exclamava ela, com a voz tremida pela emoção.
Mas tanto se cansou a águia de ouvir seus vaidosos argumentos, que decidiu soltá-la. A orgulhosa tartaruga caiu como uma pedra, desde milhares de metros de altura, desfazendo-se em cacos ao chegar no chão.
Algumas tartarugas que viram que viram sua vizinha cair, exclamaram cheias de pena:
- Pobrezinha! Estava tão segura aqui em baixo, na terra, e teve que procurar as alturas para perder-se.


Moral
Dura lição para quem se empenha em ir contra sua própria natureza. Não é melhor cada um conformar-se com aquilo que é?


Esopo

domingo, 6 de janeiro de 2008

O galo e a raposa

Um Galo velho e sábio estava empoleirado nos ramos de uma árvore. Nisto, aproximou-se uma raposa que lhe disse em tom meloso:
- Irmão, agora há paz no reino dos animais e, por isso, já não sou tua inimiga. Desce do ramo para que possamos celebrar a nossa amizade com um beijo. Depressa, porque hoje tenho muito que fazer.
- Irmã Raposa - replicou o Galo - esperemos pelos dois Galgos que se aproximam. De certo que também eles ficarão contentes com essa notícia e, assim, poderemos beijar-nos uns aos outros.
- Adeus! - respondeu a Raposa. - Estou cheia de pressa. Celebraremos a nossa amizade noutro dia.
Dito isto, desatou a correr o mais depressa que pode, furiosa com o Galo e cheia de medo dos cães.


Moral da história:
É mais fácil combater os malvados com as suas próprias artimanhas
La Fontaine

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

O burro com a pele de leão

Certo dia, um Burro encontrou uma pele de Leão que os caçadores tinham deixado a secar ao Sol.
- Vou cobrir-me com ela e assustar toda a gente – pensou ele.
Assim fez, e assustou todas as pessoas e todos os animais que encontrou. Muito orgulhoso do seu feito, zurrou muito alto, cheio de alegria.
Foi o seu erro, porque nesse momento todos perceberam pela sua voz que ele, afinal, era apenas um Burro.
O dono, que tinha apanhado um grande susto, resolveu castigá-lo e deu-lhe umas valentes pauladas.

Moral da história:
Não queiras parecer aquilo que não és.

La Fontaine

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Recordações

Hans entrou em casa com uma braçada de lenha e foi empilhá-la ao canto da lareira. Estava cheio de frio, mas as chamas não o podiam aquecer, porque o gelo se acumulava no seu coração. O pai tinha partido para a guerra nessa mesma tarde. Decidira seguir Napoleão, alistar-se no exército francês.
Ele bem queria não pensar nisso, mas tudo naquela sala lhe lembrava o pai. Ninguém se dera ao trabalho de esconder a caneca de cerveja, as botas de neve, as tiras de couro e as agulhas muito grossas com que remendava solas e fazia sapatos.
Cabisbaixo, foi buscar o banco de madeira onde costumava sentar-se à espera da ceia, quando a avó o interpelou num tom bastante ríspido:
- Preciso que vás buscar água ao poço. Traz-me o balde maior.
Ele olhou-a surpreendido. O balde maior era enorme, não tinha forças para o transportar.
Como se lhe tivesse lido os pensamentos, a mãe interveio:
- Agora és tu o homem da casa...
A frase cravara-se-lhe no peito como uma punhalada. “O homem da casa? Mas só tenho oito anos!”
No entanto, era assim mesmo. Na família só havia mulheres: a avó, a mãe, a irmã. E todas olhavam para ele, na esperança de que as ajudasse a vencer a miséria.
Para ganhar a vida, começou por trabalhar numa fábrica, de onde foi despedido pouco depois, porque não tinha jeito nenhum para as tarefas.
O emprego seguinte também não lhe agradou nada: aprendiz numa loja de alfaiate. Não dispondo de habilidade manual, devia ser um tormento!
A responsabilidade excessiva que pesava nos seus ombros frágeis encheu-lhe a alma de melancolia. Assim, nas horas vagas, em vez de brincar com os rapazes da mesma idade, refugiava-se num canto a ler e a escrever poemas.
Certo dia, porém, teve um encontro muito animador. Na vizinhança, havia uma velha que todos consultavam para saber o futuro, porque tinha fama de adivinha.
Hans cruzou-se com ela à saída da igreja e, para seu grande espanto, a feiticeira segurou-o por um braço com um ar entusiasmadíssimo:
- Hans Christian Andersen! Quando fores muito famoso não te esqueças de mim!
- Famoso, eu?
- Sim. Vejo nos teus olhos a glória, a riqueza e a fama.
E pegando-lhe avidamente nas mãos, pôs-se a estudar as linhas que riscam a pele, como se lesse num livro.
- Eh! O que para aqui vai de sucesso! Tanta coisa boa, meu filho.
Ele nunca mais sossegou, ansioso por ir em busca do tal destino magnífico que a velha anunciara. E insistia com a mãe.
- Deixe-me ir para a capital. Deixe-me ir para Copenhaga. Para vencer na vida tenho que sair daqui.
- A mãe hesitava. A avó achava um disparate. A irmã ria-se. Mas a velha acabou por convencê-las.

Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada, in “Público Júnior”, nº34, Novembro 1990