segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O Sonho do Pai Natal


O Pai Natal sonhou um sonho lindo, tão lindo que não queria acordar. E não queria acordar porque neste ano os Humanos encheram-se de boa vontade e fizeram um acordo de Paz, que silenciou todas as armas. Em todos os cantos do planeta, mesmo nos lugares mais recônditos da Terra, as armas calaram-se para sempre e os carros de combate e outras máquinas de guerra foram entregues às crianças para neles pintarem flores brancas de paz.

O Pai Natal sonhou um sonho lindo, tão lindo que não queria acordar. E não queria acordar porque nesse sonho não havia fome: em todas as casas havia comida, havia até algumas guloseimas para dar aos mais pequenos. Mesmo as crianças de países outrora pobres tinham agora os olhos brilhantes, brilhantes de felicidade. Todas as crianças tinham acabado de tomar um esplêndido pequeno-almoço e preparavam-se para ir para a escola, onde todos aprendiam a difícil tarefa de crescer e ser Homem ou Mulher.

O Pai Natal sonhou um sonho lindo, tão lindo que não queria acordar. E no seu sonho não havia barracas, com água a escorrer pelas paredes e ratos pelo chão, nem gente sem tecto, a dormir ao relento. No sonho do Pai Natal, todos tinham uma casa, um aconchego, para se protegerem do frio e da noite.

O Pai Natal sonhou um sonho lindo, tão lindo que não queria acordar. E no seu sonho não havia instituições para acolher crianças maltratadas e abandonadas pelos pais nem pequeninos e pequeninas à espera de um carinho, de um beijo... de AMOR. Todas as crianças tinham uma família: uma mãe ou um pai ou ambos os pais, todas as crianças tinham um colo à sua espera.

O Pai Natal sonhou um sonho lindo, tão lindo que não queria acordar. E no seu sonho não havia palavrões e outras palavras feias, não havia empurrões, má educação e desentendimentos. Toda a gente se cumprimentava com um sorriso nos lábios. Nas estradas, os automobilistas não circulavam com excesso de velocidade, cumpriam as regras de trânsito e não barafustavam uns com os outros.

O Pai Natal sonhou um sonho lindo, tão lindo que não queria acordar. E no seu sonho não havia animais abandonados pelos seus donos, deixados ao frio, à fome e à chuva, nem animais espetados e mortos nas arenas, com pessoas a aplaudir.

Mas, afinal, quando despertou verdadeiramente, o Pai Natal viu que tudo não tinha passado de um sonho; que pouco do que sonhara acontecia de verdade. Ficou triste, muito triste, e pensou:

« - Afinal, ainda é preciso que, pelo menos uma vez por ano, se celebre o Natal!».

E, nessa noite, o Pai Natal começou os preparativos para dar, mais uma vez, um pouco de alegria a todas as crianças do Mundo.

Retirado de "Diário de Aveiro", de 2000/12/07

Adaptado por Vaz Nunes - Ovar

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

As três fiandeiras

Há muito, muito tempo vivia num povoado longínquo uma mulher viúva com a sua única filha.

Para ganhar algum, dinheiro a mãe fiava, como já o haviam feito a sua mãe, a sua avó e a sua bisavó. A filha era uma rapariga muito formosa, mas tinha um grande defeito: não gostava de fiar, não gostava nem pouco nem muito. Seria capaz de fazer qualquer coisa para não ter de passar horas diante da roca. E como não gostava de fiar nunca aprendia a fazê-lo e, se alguma vez tentava, o fio saía grosso e retorcido.

Certo dia, a mãe perdeu a paciência, zangou-se e bateu-lhe até a rapariga ter começado a chorar muito alto. Aconteceu que, mesmo nessa altura, ia a rainha a passar em frente à casa e, quando ouviu chorar assim tão alto, mandou que parassem a carruagem, entrou e perguntou à mãe porque batia na filha a ponto de se lhe ouvirem os gritos.

Então a mulher, com vergonha de revelar a preguiça da filha, disse:

- Eu não consigo que ela pare de fiar, só quer fiar e mais fiar, e eu sou pobre e não posso arranjar linho.

A rainha respondeu:

- Dai-me a vossa filha, que ela venha ao castelo; tenho bastante linho, ela poderá fiar o que quiser.

A mãe deixou-a ir da melhor vontade e a rainha levou a rapariga.

Agora fia-me este linho – disse-lhe – e, se conseguires, terás por marido o meu filho mais velho. Não me importa que sejas assim pobre, a tua vontade de trabalhar é dote suficiente.

A rapariga ficou aflita, pois mesmo que fiasse de manhã à noite durante séculos não conseguiria. No seu desespero chegou-se à janela, apercebendo-se então de que três mulheres se aproximavam: a primeira tinha um pé espalmado e muito largo, a segunda um lábio tão grande que lhe caía em cima do queixo, a terceira um polegar achatado. Pararam debaixo da janela, olharam para cima e perguntaram à rapariga o que é que ela tinha.

A rapariga queixou-se da sua má sorte. Elas ofereceram-lhe ajuda e disseram:

- Se nos quiseres convidar para a tua boda, se não te envergonhares de nós, se disseres que somos tuas primas e nos sentares à tua mesa, então fiamos-te o linho, e em pouco tempo.

-Com maior prazer – respondeu a rapariga. – Entrem e comecem já o trabalho.

A rapariga escondia da rainha as três fiandeiras; de todas as vezes que ela vinha só lhe mostrava a porção de fio fiado e os elogios da rainha não tinham fim. Não levou muito tempo que tudo estivesse acabado. Então as três mulheres despediram-se e disseram à rapariga:

- Não te esqueças daquilo que nos prometeste: aí estará a tua felicidade.

Quando a rapariga mostrou à rainha a montanha de fio, combinou-se o casamento; o noivo satisfeito por ter arranjado mulher tão diligente e prendada, não se cansava de elogiá-la.