segunda-feira, 1 de novembro de 2010

As três fiandeiras

Há muito, muito tempo vivia num povoado longínquo uma mulher viúva com a sua única filha.

Para ganhar algum, dinheiro a mãe fiava, como já o haviam feito a sua mãe, a sua avó e a sua bisavó. A filha era uma rapariga muito formosa, mas tinha um grande defeito: não gostava de fiar, não gostava nem pouco nem muito. Seria capaz de fazer qualquer coisa para não ter de passar horas diante da roca. E como não gostava de fiar nunca aprendia a fazê-lo e, se alguma vez tentava, o fio saía grosso e retorcido.

Certo dia, a mãe perdeu a paciência, zangou-se e bateu-lhe até a rapariga ter começado a chorar muito alto. Aconteceu que, mesmo nessa altura, ia a rainha a passar em frente à casa e, quando ouviu chorar assim tão alto, mandou que parassem a carruagem, entrou e perguntou à mãe porque batia na filha a ponto de se lhe ouvirem os gritos.

Então a mulher, com vergonha de revelar a preguiça da filha, disse:

- Eu não consigo que ela pare de fiar, só quer fiar e mais fiar, e eu sou pobre e não posso arranjar linho.

A rainha respondeu:

- Dai-me a vossa filha, que ela venha ao castelo; tenho bastante linho, ela poderá fiar o que quiser.

A mãe deixou-a ir da melhor vontade e a rainha levou a rapariga.

Agora fia-me este linho – disse-lhe – e, se conseguires, terás por marido o meu filho mais velho. Não me importa que sejas assim pobre, a tua vontade de trabalhar é dote suficiente.

A rapariga ficou aflita, pois mesmo que fiasse de manhã à noite durante séculos não conseguiria. No seu desespero chegou-se à janela, apercebendo-se então de que três mulheres se aproximavam: a primeira tinha um pé espalmado e muito largo, a segunda um lábio tão grande que lhe caía em cima do queixo, a terceira um polegar achatado. Pararam debaixo da janela, olharam para cima e perguntaram à rapariga o que é que ela tinha.

A rapariga queixou-se da sua má sorte. Elas ofereceram-lhe ajuda e disseram:

- Se nos quiseres convidar para a tua boda, se não te envergonhares de nós, se disseres que somos tuas primas e nos sentares à tua mesa, então fiamos-te o linho, e em pouco tempo.

-Com maior prazer – respondeu a rapariga. – Entrem e comecem já o trabalho.

A rapariga escondia da rainha as três fiandeiras; de todas as vezes que ela vinha só lhe mostrava a porção de fio fiado e os elogios da rainha não tinham fim. Não levou muito tempo que tudo estivesse acabado. Então as três mulheres despediram-se e disseram à rapariga:

- Não te esqueças daquilo que nos prometeste: aí estará a tua felicidade.

Quando a rapariga mostrou à rainha a montanha de fio, combinou-se o casamento; o noivo satisfeito por ter arranjado mulher tão diligente e prendada, não se cansava de elogiá-la.

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