quarta-feira, 31 de outubro de 2007

O Gosto das Bruxas

Era uma vez uma menina que estava presa, na torre mais alta de um castelo.Ela era uma princesa, mas não lhe valia de nada, porque perdera os seus pais e o reino, numa guerra que o dono do castelo, já se vê, é que ganhara.
Ainda era o tempo das fadas. Por isso a menina disse, para que as paredes ouvissem:
— Se uma fada me salvasse, fosse boa, má ou assim-assim, eu repartia a meias com ela o tesouro do meu perdido reino, que só eu sei onde está enterrado.
As paredes toda a gente diz que têm ouvidos. Estas ouviram, passaram palavra e daí a nada uma velha fada apareceu na sala.
— Vou dar volta à tua vida — disse a fada.
— És uma fada boa? — perguntou a menina.
— Nem por isso — respondeu a fada.
Era uma fada assim-assim e para provar que não era das melhores, mas também não era das piores, impôs, à partida, uma condição. Salvava a menina, mas, antes, ela tinha de adivinhar-lhe o nome. E avisou logo que não tinha um nome muito mimoso.
— Serafina — disse a menina.
Nem pensar. Não era Serafina nem Leopoldina nem Marcolina. Nem Eufrásia nem Tomásia. Nem Quitéria nem Pulquéria. Nem Aniceta nem Eustáquia nem Teodósia nem Venância nem Bonifácia nem Gregória. Nem sequer Capitolina.
A princesa esgotou os nomes mais esquisitos que conhecia. E a fada sempre com a cabeça a dizer que não. Até que propôs o seguinte negócio:
— Salvo-te, mesmo que não descubras o meu nome, mas fico com o tesouro só para mim. Todinho!
A menina concordou. Não tinha outro remédio. Vai daí a fada pronunciou umas palavras mágicas e ela e a princesa atravessaram as paredes da prisão.
Uma vez em liberdade, a princesa ensinou o local onde estava escondido o tesouro e pronto, a história acaba aqui.
E o nome da fada-bruxa?
Também a menina quis saber.
— Chamo-me Joaninha — respondeu a fada-bruxa, baixando os olhos, envergonhada.
— Mas Joaninha é um nome bonito — estranhou a princesa.
— Eu não acho — disse ela. — Gostava mais de ser Virgolina Zebedeia.
Vá lá a gente entender o gosto das bruxas.

António Torrado

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

A formiga e a pomba


Estava uma Formiga junto a um regato quando foi apanhada pela corrente. Uma Pomba que estava pousada numa árvore sobre a água viu que ela estava quase a afogar-se e teve pena dela. Para que se pudesse salvar, atirou-lhe uma folha. A Formiga subiu para cima da folha e flutuou em segurança para a margem do regato.
Pouco depois, apareceu um caçador e apontou para a Pomba. A Formiga, percebendo o que estava para acontecer, picou-o no pé. O caçador sentiu a dor da picada e moveu-se ruidosamente. Alertada, a Pomba voou para longe e salvou-se.

Moral da história:
O melhor agradecimento é o que se dá quando os outros mais precisam de nós.


La Fontaine

domingo, 28 de outubro de 2007

Provérbios começados pela letra A

1. A caridade começa por nós próprios.

2. A esperança é a última a morrer.

3. A felicidade é algo que se multiplica quando se divide.

4. A fome é o melhor tempero.

5. A função faz o órgão.

6. A galinha que canta como galo corta-se-lhe o gargalo.

7. A lã nunca pesou ao carneiro.

8. A minha liberdade acaba onde começa a dos outros.

9. A mulher e a pescada querem-se da mais grada.

10. A noite é boa conselheira.

11. A ocasião faz o ladrão.

12. A ociosidade é a mãe de todos os vícios.

13. A rico não devas e a pobre não prometas.

14. A uns morrem as vacas a outros parem os bois.

15. À boda e a baptizado, não vás sem ser convidado.

16. Água do rio corre para o mar.

17. Água mole em pedra dura tanto bate até que fura.

18. Águas passadas não movem moinhos.

19. Ainda que sejas prudente e velho não desprezes o conselho.

20. Alentejanos, algarvios e cães de caça, é tudo da mesma raça.

21 Amarra-se o cavalo à vontade do dono.

22. Albarda-se o burro à vontade do dono.

23. Amigo não empata amigo.

24. Amigos, amigos, negócios à parte.

25. Amigos dos meus amigos meus amigos são.

26. Amor com amor se paga.

27. Amor e fé nas obras se vê.

28. Antes que cases vê o que fazes.

29. Antes que o mal cresça, corta-se-lhe a cabeça.

30. Antes quero asno que me leve que cavalo que me derrube. (Farsa de Inês Pereira)

31. Antes só que mal acompanhado.

32. Ao menino e ao borracho põe Deus a mão por baixo.

33. Aos olhos da inveja todo o sucesso é crime.

34. Assim como vive o Rei, vivem os vassalos.

35. Até São Pedro o vinho tem medo.

36. Atirei no que vi e acertei no que não vi.

37. Atrás de mim virá quem bom de mim fará/dirá.

38. Azeite de cima, mel do meio e vinho do fundo, não enganam o mundo.

sábado, 27 de outubro de 2007

Corre, corre cabacinha

Era uma vez uma velhota, que morava numa casinha à beira da serra.
Quando queria visitar os netos, que moravam longe, tinha de dar uma grande volta, para não atravessar a serra, onde havia muitos lobos.
Mas um dia em que a velhota foi ver os netos, resolveu ir pela serra por ser mais perto.
No caminho encontrou um lobo que lhe disse:
- Onde vais, velha?
- Vou ver os meus netinhos.
- Não vais, não, que eu como-te.
A velha pediu ao lobo que não a comesse ainda, porque estava muito magrinha, na volta já estaria mais gorda, porque os seus netos a tratavam muito bem. E trazer-lhe-ia também arroz- -doce para a sobremesa. Então o lobo deixou-a ir.
Assim, a velhota chegou a casa dos netos, que a receberam e trataram muito bem. Quando lhe apeteceu voltar para casa, os netos não a queriam deixar voltar pelo caminho da serra, por causa dos lobos. Mas ela, que era uma velha corajosa, teimou que ia, mas dentro de uma cabaça grande para se proteger.
Deram-lhe a cabaça, ela enfiou-se lá dentro e toca a andar que se faz tarde...
Um dos lobos, quando viu a cabaça, perguntou-lhe:
- Ó cabaça, viste por aí uma velha?
A velha dentro da cabaça, disfarçou a voz e cantou assim:

“ Não vi velha nem velhinha
Não vi velha nem velhão.
Corre, corre, cabacinha
Corre, corre cabação”

E pôs-se a correr.
Mais adiante, encontrou outro lobo que também lhe perguntou:
- Ó cabaça, viste por aí um velha?
E a velha enquanto corria, respondia:

“ Não vi velha nem velhinha
Não vi velha nem velhão.
Corre, corre, cabacinha
Corre, corre cabação”

Assim chegou a casa sem que nenhum mal lhe acontecesse.

Alice Vieira

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Ilustração de Mário Pinto no livro “As Fábulas de La Fontaine”

Uma raposa esfomeada passou por uma latada e viu uns cachos de uvas muito apetitosos.
- Estas uvas parecem muito suculentas - pensou ela. - Tenho que as comer!
Tentou apanhá-las saltando o mais alto que conseguiu, mas em vão, porque as uvas estavam fora do seu alcance. Então desistiu e afastou-se. Fingindo-se desinteressada, exclamou:
- Pensei que estavam maduras, mas vejo agora que ainda estão muito verdes!

Moral da história:Quem desdenha quer comprar

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

O Azeiteiro e o Burro

Dois estudantes encontraram, numa estrada, um azeiteiro com um burro carregado de bilhas de azeite. Os estudantes estavam sem dinheiro; por isso, decidiram roubar o animal. Enquanto o pobre homem seguia o seu caminho, um deles tirou a cabeçada do burro e colocou-a no pescoço. O outro estudante fugiu com o animal e a carga. De repente, o azeiteiro olhou para trás e viu um rapaz em vez do burro.
Nesse momento, o estudante exclamou: «Ah! senhor, quanto lhe agradeço ter-me dado uma pancada na cabeça! Quebrou-me o encanto que durante tantos anos me fez ser burro!...»

O azeiteiro tirou o chapéu e disse-lhe: «Afinal, o meu burro estava enfeitiçado! Perdi o meu ganha-pão! Peço-lhe muitos perdões por tê-lo maltratado tanta vez - mas que quer? - o senhor era muito teimoso!»
- Está perdoado, bom homem! - disse o estudante. O que lhe peço é que me deixe em paz.
O pobre azeiteiro lamentou-se porque já não podia vender o azeite. Então, foi pedir dinheiro a um compadre para ir à feira comprar outro burro. Quando lá chegou, viu um estudante a vender o seu burro. O azeiteiro pensou que o rapaz se tinha transformado, outra vez, num animal! Aproximou-se do burro e gritou com toda a força: «Olhe, senhor burro, quem o não conhecer que o compre».

(adaptado)
Conto Tradicional Português recolhido por Adolfo Coelho

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Adivinhas

Cá estou eu com um novo desafio.

Tenta responder a estas adivinhas e entrega à professora Rita Batista as respostas. O/A primeiro(a) aluno(a) a entregar todas as respostas certas ganhará um prémio. Toca a participar!


1. Qual é coisa qual é ela que desaparece, mal o homem acaba de a fazer?

2. Qual é a planta mais útil ao homem?

3. São sete irmãos. Cinco irmãs e dois irmãos. Seis trabalham, o outro não. Cinco vão à feira e dois não. Quem são?

4. Faça sol ou faça frio ele tem sempre onde morar. Veio ao mundo senhorio, mas como o pai e o tio, não pode a casa alugar. Quem é?

5. Qual é coisa qual é ela que tem 4 sílabas e 23 letras?

6. Qual é coisa qual é ela que mal entra em casa fica logo à janela?

7. Qual é coisa qual é ela que quando cai ao chão fica amarela?

8. O que é que não tem carne, nem ossos, mas tem cinco dedos?

9. Quem é que, apesar de ter poucas horas de vida, pode ainda viver muitos anos?

10. Quais são os animais mais infelizes?

11. Por que é que as abelhas gostam do seu trabalho?

12. O que é que primeiro entra e só depois abre a porta?

13. Cinco macacos de imitação estavam sentados num muro. Um deles saltou para o chão. Quantos ficaram?

14. Que acontece em Lisboa todos os dias às 24 horas?

15. Qual é o arco mais colorido?

16. Qual é a parte do corpo mais vigiada?

17. O marido de uma mulher viúva pode voltar a casar-se?

18. São muito esperadas, mas quando chegam nós partimos.

19. Como se faz para tornar felizes os infelizes?

20. Quanto mais quente mais fresco é?

21. Qual é coisa, qual é ela que nos dias lindos fica em casa e nos dias feios sai a passear?

22. Qual é coisa qual é ela que não pode ser experimentado antes de se usar?

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Luísa Ducla Soares

Luísa Ducla Soares (Maria Luísa Bliebernicht Ducla Soares Sottomayor Cardia) nasceu em Lisboa a 20 de Julho de 1939. É licenciada em Filologia Germânica. Tem-se dedicado, como estudiosa e autora, à literatura infanto-juvenil.
O seu primeiro livro para crianças intitula-se “A História da Papoila”. Ao longo da sua vida já publicou 45 obras infanto-juvenis de onde destaco os seguintes: Histórias de bichos, Poemas da mentira ... e da verdade, Diário de Sofia & Cª, O rapaz e o robô, Crime no expresso do tempo, Arca de Noé.

Realizou o Site da Internet da Presidência da República para crianças e jovens (http://www.presidenciarepublica.pt/pt/main.html).

Neste momento é Assessora Principal da Biblioteca Nacional, onde trabalha desde 1978.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Um passeio de baleia

Estava uma fada muito sossegada, num rochedo à beira-mar, à espera de ver sair das águas uma sereia sua amiga, quando viu aparecer, atrás de uma onda verde-escura, uma baleia que, sem dar qualquer explicação, a engoliu. Não que a baleia fosse má, mas estava cheia de fome e o mar andava com pouco peixe.
A fada deslizou pela estreita garganta da baleia, aflita por não ver sequer uma pontinha de luz que a pudesse orientar no meio daquela escuridão terrível e daquele cheiro a cera de velas queimadas.
Depois de descer uma longa rampa, caiu num enorme buraco negro, onde, ao fim de uns minutos, ouviu uma voz que lhe era familiar. Era a voz da bruxa Cesaltina que no dia anterior tinha ido, para se refrescar, molhar os pés numa praia que havia perto da sua cabana.
- Também aqui estás?- disse a fada.- É verdade, também aqui estou- respondeu a bruxa, contente por ter reconhecido a sua voz.
- E agora como vamos fazer para sair daqui?- inquiriu a fada.
- Boa pergunta, boa pergunta! Eu cá não sei ao certo a resposta mas acho que temos de esquecer que somos inimigas e juntar as nossas magias para vencermos a baleia que nos engoliu.
No escuro imenso da barriga da baleia levaram horas e mais horas a pensar, sem saberem se lá fora era noite se era dia, se o tempo passava ou se estava parado.
Foi a fada a primeira a romper o silêncio com uma proposta que pareceu boa a ambas:
- E se transformássemos a baleia em golfinho? Os golfinhos são amigos de toda a gente...
- Boa ideia, boa ideia!- respondeu a outra.
Juntaram-se muito juntinhas no escuro e pronunciaram em uníssono todas as palavras mágicas que sabiam. Depois de as terem dito, uma a uma, deram-se conta de que tudo estremecia à sua volta. Ficaram atordoadas com os estrondos e com os abanões e quando se deram de novo conta do que se estava a passar perceberam que era na barriga de um golfinho que estavam.
O golfinho disse-lhes palavras amigas como estas:
- Não se assustem que as vou levar a um sítio seguro.

E cumpriu o prometido. Deixou-as, passadas umas horas, numa praia de areia macia e morna e de água límpida. Foi aí que decidiram construir uma cabana para passarem juntas o resto dos seus dias.

José Jorge Letria, Fadas contadas, Câmara Municipal de Sintra

domingo, 21 de outubro de 2007

Perdido

Este poema é da autoria de um dos membros do Clube de Leitura, a aluna Luísa Macias da Turma C do 5º ano

As flores abrem
muito devagarinho
as gaivotas voam
e o meu amor fica sozinho

Ponho - me de
joelhos no chão e
chamo o meu amor
João, João, João

Ponho-me em cima
de uma árvore
e grito ainda mais
nao o encontro vou dizer a seus pais

Fico em casa
sempre a chorar
não consigo comer
nem sequer falar

Procuro-o no café
e no pavilhão
quando vou a sua casa
não é que ele está a ver televisão

Luísa Macias

A lenda do Arco-íris


O João era pobre. O pai tinha morrido e era muito difícil a mãe manter a casa e sustentar os filhos.Um dia ela pediu-lhe que fosse pescar alguns peixes para o jantar.
O João reparou numa coisa a mexer-se no meio do arvoredo. Aproximou-se sorrateiro, abaixou-se, afastou as folhas devagarinho e . . . viu um pequeno homem sentado num minúsculo banco de madeira. Costurava um colete verde com um ar compenetrado enquanto cantarolava uma musiquinha.
À frente do João estava um anão. Rapidamente esticou o braço e prendeu o homenzinho entre os dedos.
- Boa tarde, meu senhor.
- Como estás, João? - respondeu o homenzinho com um sorriso malicioso.Mas o anão tinha montes de truques para se libertar dos humanos. Inventava pessoas e animais a aproximarem-se, para que desviassem o olhar e ele pudesse escapar.
- Diz-me lá, onde fica o tesouro do arco-íris?
Mas o anão gritou para o João que vinha lá um touro bravo a correr bem na sua direcção. Ele assustou-se, abriu a mão e o anão desapareceu.O João sentiu uma grande tristeza, pois quase tinha ficado rico.E, com estas andanças, voltou para casa de mãos a abanar, sem ter pescado peixe nenhum. Mal chegou, contou à mãe o sucedido. Esta, que já conhecia a manha dos anões, ensinou-o:
-Se alguma vez o encontrares, diz-lhe que traga o tesouro imediatamente.
Passaram-se meses.Até que um dia, ao voltar para casa, sentiu os olhos ofuscados com um brilho intenso. O anão estava sentado no mesmo pequeno banco de madeira, só que desta vez consertava um dos seus sapatos.
- Cuidado! Vem lá o gavião! - gritou o anão, fazendo uma cara de medo.
- Não me tentes enganar! - disse o João. - Traz já o pote de ouro!- Traz já o pote de ouro ou eu nunca mais te solto.
- Está bem! - concordou o anão. - Desta vez ganhaste!
O pequeno homem fez um gesto com a mão e imediatamente um belíssimo arco-íris iluminou o céu, saindo do meio de duas montanhas e terminando bem aos pés do João. As 7 cores eram tão intensas que até esconderam o pequeno pote de barro, cheio de ouro e pedras preciosas, que estava à sua frente.O anão baixou-se, com o chapéu fez-lhe um aceno de despedida, e gritou, pouco antes de desaparecer para sempre:
- Adeus, João! És um menino esperto! Terás sorte e serás feliz para sempre!E foi o que aconteceu. O pote de ouro nunca se esgotou e o João e a sua família tiveram uma vida de muita fartura e de muita alegria.

sábado, 20 de outubro de 2007

O Leão e o Rato

Certo dia, estava um Leão a dormir a sesta quando um ratinho começou a correr por cima dele. O Leão acordou, pôs-lhe a pata em cima, abriu a bocarra e preparou-se para o engolir.
- Perdoa-me! - gritou o ratinho - Perdoa-me desta vez e eu nunca o esquecerei. Quem sabe se um dia não precisarás de mim?
O Leão ficou tão divertido com esta ideia que levantou a pata e o deixou partir.
Dias depois o Leão caiu numa armadilha. Como os caçadores o queriam oferecer vivo ao Rei, amarraram-no a uma árvore e partiram à procura de um meio para o transportarem.
Nisto, apareceu o ratinho. Vendo a triste situação em que o Leão se encontrava, roeu as cordas que o prendiam.
E foi assim que um ratinho pequenino salvou o Rei dos Animais.

Moral da história:
Não devemos subestimar os outros.
La Fontaine

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

O Diário de Adrian Mole

Esta colecção é muito engraçada. Poderás requisitar alguns exemplares na Biblioteca da nossa escola. Aqui fica uma das páginas de um dos livros deste rapaz que está na "Crise da adolescência"

Sábado, 10 de Julho

O meu pai levou o Bert a visitar a Queenie, por isso fui de autocarro para o supermercado. A minha mãe deu-me 30 libras e disse-me que comprasse comida para cinco dias. Lembrei-me da nossa última aula de Economia Doméstica, em que a Sr.ª Appleyard nos ensinou a fazer refeições económicas com o máximo de calorias, por isso comprei:

1 kg de lentilhas uma couve grande
0,5 kg de ervilhas hidratadas 1 kg de costeletas de carneiro
1,5 kg de farinha integral 1 nabo gigantesco
1 pacote de fermento 1 ramo de salsa
0,5 kg de açúcar pilé 1 kg de cenouras
1 l de iogurte natural 1 kg de cebolas
1 kg de batata roxa
1 kg de arroz integral
0,5 kg de pêssegos secos
1 bisnaga de queijo creme
250 g de manteiga

Ainda não sei como arrastei tudo até à paragem do autocarro. O condutor não ajudou nada. Não apanhou uma única batata do chão do veículo.
Vou escrever uma carta ao supermercado por causa da porcaria dos sacos que fornecem. Deviam aguentar ser arrastados um quilómetro sem rebentar. A minha mãe não me agradeceu quando lhe entreguei quinze libras de troco! Fartou-se de refilar por me ter esquecido do bolo de chocolate e das ervilhas de lata, etc.
Ficou louca quando viu que eu não tinha comprado um pão de forma. Eu fiz-lhe notar que tinha todos os ingredientes com que fazer o pão. Ela disse: “Correcção: tu é que tens todos os ingredientes!”
Passei o fim de tarde a bater a massa de um lado para o outro, e depois a pô-la dentro de formas. Não sei o que fiz mal. De cinco em cinco minutos abri o forno para ver se estava a correr bem, mas nunca mais subiu.

Sue Townsend, Adrian Mole na Crise da Adolescência, Ed. Difel (adaptado)

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

O Ardina

Era Domingo de Inverno e àquela hora matinal ninguém. As ruas vazias, silenciosas, atravancadas de carros de vidros embaciados. Todos dormiam ainda à hora da leiteira. Portas fechadas, persianas corridas.
Um cão vadio rebuscava os restos de lixo e os gatos espreitavam, atentos ao inimigo, escondidos debaixo dos automóveis. O bairro económico descansava ao sétimo dia, no quente dos lençóis.
Foi então que apareceu, na esquina, aquele homem de boné, capa de plástico e sacola enorme pendurada no ombro. Apregoava jornais com uma cantilena intermitente, perfurando o silêncio como uma verruma.
Atirava títulos de jornais, com a perícia de malabarista de circo. Levava a mão à sacola, tirava um exemplar, dobrava-o em laço e atirava-o, depois, para as varandas. O jornal descrevia uma curva suave e caía com um leve ruído, no destino certo.
Lá dentro, naquela manhã de Domingo sem sol, as pessoas dormiam o melhor sono da semana, prolongado e tranquilo. E aquele homem, como quem a malha no terreiro ou lança argolas em barras de feira, atirava-lhes sobressaltos, guerras, desastres, mortes, sismos, tiros, prisões, divórcios, roubos, discursos, artigos e preposições.
Mal sabiam o que os esperava, aqueles cidadãos do bairro económico tranquilo, vazio, cor-de-rosa, quando deixassem de ressonar naquela manhã domingueira, com ameaços de chuva.
Mas o homem dos jornais, na rotina do seu trabalho matinal, não lançava só bombas de notícias, granadas de desgraças. Atirava também esperanças que florirão nas varandas, na manhã clara de um Domingo de sol.

Manuel de Azevedo
O homem da cidade

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

O Menino Azul

O menino quer um burrinho
para passear.
Um burrinho manso,
que não corra nem pule,
mas que saiba conversar.

O menino quer um burrinho
que saiba dizer
o nome dos rios,
das montanhas, das flores,
- de tudo o que aparecer.

O menino quer um burrinho
que saiba inventar histórias bonitas
com pessoas e bichos
e com barquinhos no mar.

E os dois sairão pelo mundo
que é como um jardim
apenas mais largo
e talvez mais comprido
e que não tenha fim.

(Quem souber
de um burrinho desses,
pode escrever
para a Ruas das Casas,
Número das Portas,
ao Menino Azul que não sabe ler.)
Cecília Meireles

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Poema dedicado à minha avó

A Maria João Portugal é um dos membros do Clube de Leitura e gostaria de partilhar este poema, feito por ela, para dedicar à sua avó.

Eu tenho uma avó Rosa
Que é muito engraçada
Dá-me muito carinho
Faz de mim uma mimada.

Quando eu faço uma birra
Lá vem ela com paciência
Mostrar à gente mais nova
Como se age com clemência.

Quando fico doente
Ela sabe como me curar
Gosto muito da minha avó
Por isso deixo-me tratar.

Desejo a todos os meninos
Que tenham uma avó Rosa
Divertida e muito amiga
AVÓ ÉS DELICIOSA!!!

Mértola tem duas Pontes


O Luís Caetano é um dos membros do Clube de Leitura e, após uma pesquisa, descobriu um poema sobre Mértola que deixa aqui para os leitores.

Mértola tem duas pontes
Tem muralha e tem castelo.
E tem o rio Guadiana,
És tão lindo e és tão belo!

Tem cinema e tem praça,
Tem mesquita e tem museu.
Tem bombeiros e farmácia,
Tem escola e tem liceu.

Mértola são três vilas,
Diz lá qual é a tua?
Uma dentro da muralha,
E as outras ficam na rua.

Mértola vende de tudo,
É um centro comercial.
De uma ponta até à outra,
E na rua principal.

Vende motas, vende carros,
Carrinhas em bom estado.
Está aqui à tua escolha,
Carro novo e usado.

Tem piscina e futebol,
É terra com muita vida.
Tem uma praça de táxis,
Ao lado da avenida.

Tem a caixa e tem banco,
E tem fortuna e dinheiro.
No outro lado do rio,
Tem o seu grande celeiro.

Tem cafés e restaurantes,
Boa comida caseira.
Serve bem o cliente,
Mesmo ao dia de feira.

Tem o posto da guarda,
Mesmo no centro da vila.
Para fazer segurança,
De toda esta família.

Câmara tem novos galões,
Hoje parece um espelho.
Vai abrir novos trabalhos,
Mesmo ao nível do concelho.

Francisco João Paulino, Foi um sonho este meu livro, Poesia popular

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

O Burro e o Mundo

Era uma vez um burro que vivia numa quinta calma e sossegada, onde era bem tratado. Mas o burro não gostava lá muito do seu trabalho, pois todo o dia andava à roda com os olhos tapados, para mover a nora e tirar água para regar.
Um belo dia, o nosso burro decidiu deixar aquela vida e ir correr mundo, à procura de coisas novas e interessantes. Então fugiu e começou a sua caminhada pelos campos todos verdes. Tudo era novidade e tudo lhe agradava, até que, passado algum tempo encontrou um grupo de pessoas que estava a obrigar vários animais, como ele, a trabalhar sem descanso. Além disso estes animais eram maltratados se não trabalhassem e o burro não gostou do que viu. Continuou a sua viagem e mais adiante, viu algumas pessoas e alguns animais a lutar, porque queriam passar ao mesmo tempo por um caminho muito estreito e então pensou que afinal o mundo não era tão bom como ele tinha imaginado.
Por tudo isto decidiu voltar para a sua quinta calma e sossegada, onde era bem tratado e havia paz, já que o mundo que ele viu era bastante violento.

domingo, 14 de outubro de 2007

A raposa e o Corvo

Mestre Corvo, numa árvore poisado,
No bico segurava um belo queijo.
Mestra raposa, atraída pelo cheiro,
Assim lhe diz em tom entusiasmado:
- Olá! Bom dia tenha o Senhor Corvo,
Tão lindo é: uma beleza alada!
Fora de brincadeiras, se o seu canto
Tiver das suas penas o encanto
É de certeza o Rei da Bicharada!

Ouvindo tais palavras, que feliz
O Corvo fica; e a voz quer mostrar:
Abre o bico e lá vai o queijo pelo ar!
A Raposa o agarra e diz: - Senhor,
Aprenda que o vaidoso se rebaixa
Face a quem o resolve bajular.
Esta lição vale um queijo, não acha?
O Corvo, envergonhado, vendo o queijo fugir,
Jurou, tarde de mais, noutra igual não cair.

Tradução e adaptação de Maria Alberta Menéres. Edições ASA.
La Fontaine

sábado, 13 de outubro de 2007

O Cavalinho das Sete Cores


Um conde tinha ficado cativo na guerra dos mouros. Levaram-no ao rei para que fizesse dele o que quisesse. Tinha o rei três filhas, todas três muito Formosas, que pediram ao pai que o deixasse ficar prisioneiro no castelo até que o viessem resgatar. A menina mais velha foi ter com o conde e disse-lhe que casaria com ele se lhe ensinasse qualquer coisa que ela não soubesse. O cativo disse:
- Pois ensino-te a minha religião, e vens comigo para o meu reino, e casaremos.
Ela não quis. Deu-se o mesmo com a segunda.
Veio por sua vez a menina mais moça; quis aprender a religião, e combinaram fugir do castelo, sem que o rei soubesse de nada. Disse então ela:
- Vai à cavalariça, e hás-de lá encontrar um rico cavalinho de sete cores, que corre como o pensamento. Espera por mim no pátio, à noite, e partiremos ambos.
Assim fez. A princesa apareceu com os seus vestidos de moura, com muitas jóias, e à primeira palavra que disse logo o cavalinho das sete cores se pôs nas vizinhanças da cidade donde era natural o cativo conde.
Antes de chegar à cidade havia um grande areal; o conde apeou-se, e disse à princesa moura que esperasse por ele, enquanto ia ao seu palácio buscar fatos próprios para aparecer na corte, porque estava com roupas de cativo e ela de mourisca.
Assim que a princesa ouviu isto, rompeu em grande choro:
- Por tudo quanto há, não me deixes aqui, porque te hás-de esquecer de mim.
- Como é que isso pode ser?
- Porque assim que te separares de mim e alguém te abraçar logo me esqueces completamente.
O conde prometeu que não se deixaria abraçar por ninguém, e partiu; mas assim que chegou ao palácio a sua ama de leite conheceu-o, e com alegria foi para ele e abraçou-o pelas costas. Não foi preciso mais; nunca mais ele se pôde lembrar da princesa. Ela tinha ficado no areal, e foi dar a uma cabana onde vivia uma pobre mulher, que a recolheu e tratou bem; ali foi ter a notícia de que o conde estava para casar com uma formosa princesa, e na véspera do casamento a mourinha pediu ao filho da velha que levasse o cavalinho das sete cores a passear no adro da igreja em que haviam de casar.
Assim foi; quando chegou o noivo com o acompanhamento, ficou pasmado de ver um tão belo cavalinho, e quis mirá-lo de mais perto. O moço que o passeava andava a dizer:

Anda cavalinho, anda
Não esqueças o andar,
Como o conde esqueceu
A moura no areal.

O noivo lembrou-se logo da sorte que lhe tinha caído, desfez o casamento com a princesa e foi buscar a mourinha com que casou, e viveram muito felizes.

Conto tradicional, Histórias de Longe e de Perto, Ministério da Educação
(Secretariado Coordenador dos Programas de Educação Multicultural), (adaptado)

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

A Galinha

Minha mãe e minha tia foram à feira. Minha mãe com o meu pai e minha tia com o meu tio. Mas todos juntos. Na camioneta da carreira. Na feira compraram muitas coisas e a certa altura minha mãe viu uma galinha e disse:
- Olha que galinha engraçada.
E comprou-a também. Estava agachada como se a pôr ovos ou a chocá-los. Era castanha nas asas, menos castanha para o pescoço, e a crista e o bico tinham a cor de um bico e de uma crista. Nas costas levara um corte a toda a volta para se formar uma tampa e meterem coisas dentro, porque era uma galinha de barro. Minha tia, que se tinha afastado, veio ver, estava a minha mãe a pagar depois de discutir. E perguntou quanto custava. A mulher disse que vinte mil réis, minha tia começou aos berros, que aquilo, só se o fosse roubar, e a mulher vendeu-lhe uma outra igual por sete mil e quinhentos. Minha mãe aí não se conformou, porque tinha regateado mas só conseguira baixar para doze e duzentos. A mulher disse:
- Foi por ser a última, minha senhora.
Minha tia confrontou as duas galinhas, que eram iguais, achando que a de minha mãe era diferente.
- Só se foi por ser mais cara - disse minha mãe com a ironia que pôde.
Minha tia aqui voltou a erguer a voz. Não se via que era diferente? Não se via que tinha o bico mais perfeito? E o rabo?
- Isto é lá rabo que se compare?
E tais coisas disse e tantas, com gente já a chegar-se, que minha mãe pôs fim ao sermão, por não gostar de trovoadas:
- Mas se gostas mais desta, leva-a, mulher.
Foi o que ela quis ouvir. Trocou logo as galinhas, mas ainda disse:
- Mas sempre te digo que a minha é de mais dura, basta bater-lhe assim (bateu) para se ver que é mais forte.
- Então fica com ela outra vez - disse minha mãe.
- Não, não. Trafulhices, não. Está trocada, está trocada.
Meu tio estava a assistir mas não dizia nada, porque minha tia dizia tudo por ele e, se dissesse alguma coisa de sua invenção, minha tia engolia-o. Meu pai também estava a assistir, mas também não dizia nada, por entender que aquilo era assunto de mulheres. Acabadas as compras, minha mãe voltou logo com o meu pai na carroça do António Capador que tinha ido vender um porco. Mas a minha tia ficava ainda com o meu tio, porque precisavam de ir visitar a D. Aurélia, que era uma pessoa importante e merecia por isso uma visita para se ser também um pouco importante. E como ficavam e só voltavam na camioneta da carreira, a minha tia pediu a minha mãe que lhe trouxesse a galinha, para não andar com ela o dia inteiro num braçado, que até se podia partir. De modo que disse:
- Tu podias levar-me a galinha, para não andar com ela o dia inteiro num braçado, que até se pode partir.
Minha mãe trouxe, pois, as duas galinhas na carroça do António Capador, e a minha tia ficou. E quando à tarde ela voltou da feira, foi logo buscar a sua. Minha mãe já a tinha ali, embrulhada e tudo como minha tia a deixara, e deu-lha. Mas minha tia olhou a galinha de minha mãe, que já estava exposta no aparador, e, ao dar meia volta, quando se ia embora, não resistiu:
- Tu trocaste mas foi as galinhas.
Disse isto de costas, mas com firmeza, como quem se atira de cabeça. E minha mãe pasmou, de mãos erguidas ao céu:
- Louvado e adorado seja o Santíssimo Nome de Jesus! Então eu toquei lá na galinha! Então a galinha não está ainda conforme tu ma entregaste! Então tu não vês ainda o papel dobrado? Então não estarás a ver o nó do fio?
Estavam só as duas e puderam desabafar.
- Trocaste, trocaste. Mas fica lá com a galinha, que não fico mais pobre por isso.
Minha mãe, cheia de compreensão cristã e de horror às trovoadas, ainda pensou em destrocar tudo outra vez. Mas aquilo já ia tão para além do que Cristo previra, que bateu o pé:
- Pois fico com ela, não a quisesses trocar. Só tens gosto naquilo que é dos outros.
E daqui para a frente, disseram tudo. Minha tia saiu num vendaval, desceu as escadas ainda aos berros, de modo que minha mãe teve ainda de vir à janela dizer mais coisas. Minha tia foi indo pela rua adiante, sempre aos gritos, e de vez em quando parava, voltando-se para trás para dizer uma ou outra coisa em especial a minha mãe, que estava à janela e lhe ia também respondendo como podia. Até que a rua acabou e minha mãe fechou a janela. E aí começou o meu pai, quando lá longe minha tia lhe passou ao pé e meu pai lhe perguntou o que havia e ela lhe disse o que havia, chamando mentirosa a minha mãe. Meu pai então disse:
- Mentirosa é você.E começou a apresentar-lhe os factos comprovativos do que afirmara e que já tinha decerto enaipados de outras ocasiões, porque não se engasgava:
- Mentirosa é você e sempre o foi. Já quando você contou a história do Corneta, andou a dizer que...
- Mentiroso é você, como sua mulher. Uma vez na padaria a sua mulher disse que...
E daí foram recuando no tempo à procura das mentiras um do outro. Estavam já chegando à infância, quando apareceu o meu tio. Minha tia passou-lhe a palavra e começou ele. Mas como a coisa agora era entre homens, meu tio cerrou os punhos e disse:
- Eu mato-o, eu mato-o.
Meu pai, que já devia estar cansado, ficou quieto, à espera que ele o matasse, e como ficou quieto, meu tio recuou uns passos, tapou os olhos com um braço e disse outra vez:
- Foge da minha vista que eu mato-te.
Entretanto olhou em volta à espera que o segurassem. E quando calculou que tudo estava a postos para o segurarem, ergueu outra vez os punhos e avançou para o meu pai. Finalmente seguraram-no, e meu tio estrebuchou a querer libertar-se para matar o meu pai. Mas lá o foram arrastando, enquanto o meu tio se voltava ainda para trás, escabujando de raiva e de ameaça.
Vergílio Ferreira, Contos, Venda Nova, Bertrand, 1979 (2ª ed.)

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Os Números do Menino Guloso

Dá-me bolinhos
mas não só um.
Desde o almoço
faço jejum.

Dá-me bolinhos
mas não só dois.
Como um agora
outro depois.

Dá-me bolinhos
mas não só três,
que os vou papar
duma só vez.

Dá-me bolinhos
mas não só quatro,
para os provar
logo no quarto.

Dá-me bolinhos
mas não só cinco.
Com tanta fome
eu bem os trinco.

Dá-me bolinhos
mas não só seis,
todos maiores
que bolos reis.

Luísa Ducla Soares, Poemas da Mentira e da Verdade, Livros Horizonte

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Frei João Sem Cuidados

O rei ouvia sempre falar em Frei João Sem Cuidados como um homem que não se afligia com coisa nenhuma deste mundo.
- Deixa estar, que eu é que te hei-de meter em trabalhos!

Mandou-o chamar à sua presença e disse-lhe:
- Vou dar-te uma adivinha e, se dentro de três dias não me souberes responder, mando-te matar. Quero que me digas quanto pesa a Lua, quanta água tem o mar, e o que é que eu penso?
Frei João Sem Cuidados saíu do palácio bastante atrapalhado, pensando na resposta que havia de dar àquelas perguntas. O seu moleiro encontrou-o no caminho e lá estranhou de ver Frei João Sem Cuidados de cabeça baixa e macambúzio.
- Olá, senhor Frei João Sem Cuidados, então que é isso que o vejo tão triste?

- É que o rei disse-me que me mandava matar se dentro de três dias eu não lhe respondesse a estas perguntas:Quanto pesa a Lua? Quanta água tem o mar? O que ele pensa? O moleiro pôs-se a rir e disse-lhe que não tivesse cuidados, que lhe emprestasse o hábito de frade, que ele iria disfarçado e havia de dar boas respostas ao rei.
Passados os três dias o moleiro, vestido de frade, foi pedir audiência ao rei. O rei perguntou-lhe: - Então quanto pesa a Lua?
- Saberá Vossa Majestade que não pode pesar mais do que um arrátel, porque todos dizem que ela tem quatro quartos.
- É verdade... E agora: quanta água tem o mar?
Respondeu o moleiro:
- Isso é muito fácil de saber. Mas como Vossa Majestade só quis saber da água do mar, é preciso primeiro que mande tapar todos os rios, porque sem isso nada feito.
O rei achou bem respondido. Mas zangado por ver que Frei João Sem Cuidados se escapava das dificuldades, tornou:
- Agora, se não souberes o que penso, mando-te matar!
O moleiro respondeu:
- Ora Vossa Majestade pensa que está a falar com o Frei João Sem Cuidados, e está mas é a falar com o seu moleiro!
Deixou cair o hábito de frade, e o rei ficou pasmado com a sua esperteza.
Teófilo Braga

terça-feira, 9 de outubro de 2007

A Tartaruga e a Lebre

“Apostemos, disse à lebre
A tartaruga matreira,
Que eu chego primeiro ao alvo
Do que tu que és tão ligeira!”

Estando as duas a par,
A tartaruga começa
Lentamente a caminhar.
A lebre, tendo vergonha
De correr diante dela,
Tratando uma tal vitória
De treta ou de bagatela,
Deita-se e dorme um pouco;
Ergue-se e põe-se a observar
De que parte corre o vento,
E depois entra a pastar;
Eis que deita uma vista de olhos
Sobre a companheira sorna,
Ainda a vê longe da meta
E a pastar de novo torna.
Olha, e depois que a vê perto,
Começa a sua carreira;
Mas então apressa os passos
A tartaruga matreira.

À meta chega primeiro,
Apanha o prémio apressada,
Pregando à lebre vencida
Uma grande gargalhada.
Não basta só haver posses
Para obter o que intentamos;
É preciso pôr-lhe os meios,
Quando não, atrás ficamos.
O empreendedor não desprezes
Por fraco, se te investir;
Porque um anão acordado
Mata um gigante a dormir.
Esopo

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Pescaria

Cesto de peixes no chão.
Cheio de peixes, o mar.
Cheiro de peixe pelo ar.
E peixes no chão.

Chora a espuma pela areia,
na maré cheia.

As mãos do mar vêm e vão,
as mãos do mar pela areia
onde os peixes estão.

As mãos do mar vêm e vão,
em vão.

Não chegarão
aos peixes do chão.
Por isso chora, na areia,
a espuma da maré cheia.

Cecília Meireles

domingo, 7 de outubro de 2007

A cigarra e a formiga


Num dia soalheiro de Verão, a Cigarra cantava feliz. Enquanto isso, uma Formiga passou por perto. Vinha afadigada, carregando penosamente um grão de milho que arrastava para o formigueiro.
- Por que não ficas aqui a conversar um pouco comigo, em vez de te afadigares tanto? – Perguntou-lhe a Cigarra.


- Preciso de arrecadar comida para o Inverno – respondeu-lhe a Formiga. – Aconselho-te a fazeres o mesmo.
- Por que me hei-de preocupar com o Inverno? Comida não nos falta... – respondeu a Cigarra, olhando em redor.


A Formiga não respondeu, continuou o seu trabalho e foi-se embora.
Quando o Inverno chegou, a Cigarra não tinha nada para comer. No entanto, viu que as Formigas tinham muita comida porque a tinham guardado no Verão. Distribuíam-na diariamente entre si e não tinham fome como ela.


A Cigarra compreendeu que tinha feito mal...

Moral da história:
Não penses só em divertir-te. Trabalha e pensa no futuro.
La Fontaine

sábado, 6 de outubro de 2007

A abóbora e a bolota



Certo dia, um homem, ao passar perto de uma aboboreira e de uma azinheira, pôs-se a criticar a Natureza, pois a grande azinheira dava frutos pequenos, enquanto a planta rasteira dava grandes frutos.
Cansado, encostou-se à azinheira e adormeceu. acordou mais tarde, quando uma bolota lhe caiu na testa.
Afinal, está tudo muito bem feito!- disse- Se o fruto da azinheira fosse uma abóbora, eu teria ficado esmigalhado.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Harry Potter e os Talismãs da Morte- J.K. Rowling

Gostas dos livros do Harry Potter?
Eu adoro. Até já o li. Não consegui esperar e li-o na versão original (Inglês).
Brevemente, no dia 16 de Novembro, já poderás ler o último livro da saga, na versão portuguesa, do nosso jovem feiticeiro.

Aqui fica a Sinopse.

É neste sétimo volume que Harry Potter irá travar a mais negra e perigosa batalha da sua vida. Dumbledore reservou-lhe uma missão quase impossível – encontrar e destruir os Horcruxes de Voldemort... Nunca, em toda a sua longa série de aventuras, o jovem feiticeiro mais famoso do mundo se sentiu tão só e perante um futuro tão sombrio. Chegou o momento do confronto final – Harry Potter e Lord Voldemort... nenhum pode viver enquanto o outro sobreviver... um dos dois está prestes a acabar para sempre... Os seus destinos estão misteriosamente entrelaçados, mas apenas um sobreviverá...
Numa atmosfera apoteótica e vibrante, Rowling desvenda-nos, por fim, os segredos mais bem guardados do universo fantástico de Harry Potter e deixa-nos envoltos, talvez para sempre, na sua poderosa magia. Este sétimo volume tem sido considerado pelo público e pela crítica como o melhor de toda a série de Harry Potter.


quinta-feira, 4 de outubro de 2007

A Princesa Pele de Burro

Que desespero para o rei!
A rainha acaba de morrer. Jamais encontrará uma esposa mais bela, sensata e bondosa.
“A não ser... É isso mesmo! Vou casar com a minha enteada, a filha da rainha. É tão bela e bondosa como a mãe.” – pensa o rei e nem se lembra de perguntar a opinião da jovem.
Decidido a casar com a enteada, ofereceu-lhe a pele de burro com os escudos, o símbolo da riqueza do país.
Mas a jovem não quer casar com o seu padrasto e decide fugir disfarçada com a pele de burro.
Para a Pele de Burro, como agora lhe chamam, a vida é muito dura fora do castelo.
Só lhe dão os trabalhos mais sujos e pesados!
À noite, fechada no quarto, ela arranja-se com as suas roupas de princesa. Um dia, um jovem príncipe que por ali passa, vê a menina e fica espantado com a sua beleza.
Só que quando a vai encontrar no dia seguinte, nem lhe passa pela cabeça que ela possa ser a jovem com a pele de burro.
Um dia a jovem estava a fazer um bolo para o castelo do príncipe e não repara que um dos seus anéis cai dentro da massa.
É o príncipe que descobre a jóia e logo pensa que pode ser da princesa misteriosa.
- Minha mãe, - diz o jovem príncipe- preciso de saber a quem pertence este anel!
E assim, todas as meninas do reino têm de experimentar o anel.
Parece impossível, mas o precioso anel só cabe nos dedos de Pele de Burro.
Está desvendado o mistério! A jovem princesa já pode mostrar quem é, pois encontrou o seu amado.
Que felicidade para os noivos!!!!!

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Biografia de Cecília Meireles

Certamente já reparaste que neste blogue estão dois poemas de Cecília Meireles e estarão outros, pois é das poetisas a minha preferida. Podes conhecer um pouco da sua vida lendo esta pequena biografia.

Cecília Meireles nasceu no Rio de Janeiro, Brasil, no dia 7 de Novembro de 1901, Foi também neste cidade que faleceu a 9 de novembro de 1964. Em criança foi criada pela avó materna, Jacinta Garcia Benevides, uma vez que o seu pai morreu três meses antes do seu nascimento, e a sua mãe quando ainda não tinha três anos. Em 1917, passa a exercer a profissão de professora.
Casa-se, em 1922, com o pintor português Fernando Correia Dias, com quem tem três filhas. Durante toda a sua vida recebe vários prémios relacionados com literatura.
A sua poesia está traduzida em espanhol, francês, italiano, inglês, alemão, húngaro, hindu e urdu.
Aos 9 anos escreveu a sua primeira poesia e estreou-se em 1919 com o livro de poemas Espectros, escrito aos 16 anos. De entre a sua vasta bibliografia podemos indicar:

Criança, meu amor, 1923
Nunca mais... e Poemas dos Poemas, 1923
Baladas para El-Rei, 1925
Saudação à menina de Portugal, 1930
Rui — Pequena História de uma Grande Vida, 1949(biografia de Rui Barbosa para crianças)
Canções, 1956
Giroflê, Giroflá, 1956
Isto ou Aquilo, 1964
Poesias (Ou isto ou aquilo & inéditos), 1969
Flor de Poemas, 1972
Flores e Canções, 1979
Poesia Completa, 1994
Obra em Prosa - 6 Volumes - Rio de Janeiro, 1998
Canção da Tarde no Campo, 2001

Cavalinho Branco

À tarde, o cavalinho branco
está muito cansado:

mas há um pedacinho do campo
onde é sempre feriado.

O cavalo sacode a crina
loura e comprida

e nas verdes ervas atira
sua branca vida.


Seu relincho estremece as raízes
e ele ensina aos ventos

a alegria de sentir livres
seus movimentos.

Trabalhou todo o dia, tanto!
desde a madrugada!

Descansa entre as flores, cavalinho branco,
de crina dourada!



Cecília Meireles

terça-feira, 2 de outubro de 2007

O Senhor Distraído

Este mês vou recomendar a leitura da obra "Da Rua do Contador para a Rua do Ouvidor", que é uma colectânea de pequenos contos(17) publicada, em 1990, por António Torrado. Fica aqui um bocadinho para "abrir o apetite".

Boa leitura!

"Era uma vez um senhor que era muito distraído.Estava sempre a perder coisas - as luvas, os óculos, o pente, o chapéu-de-chuva (dúzias de chapéus-de-chuva!), a carteira, a caneta e, até, uma vez, os sapatos.
Dessa vez em que chegou a casa descalço, a mulher dele fez um grande escarcéu:
- Ó homem, tu andas mesmo de cabeça perdida. Uns sapatos novos, que custaram um dinheirão! Onde é que os deixaste?
O senhor, que tinha olhos azuis, muito claros, por trás dos óculos de aros redondos, fitou a mulher e disse:
- Não sei. Costumo descalçar os sapatos debaixo da secretária, lá no escritório. Fui à casa de banho sem eles e, quando voltei, os sapatos tinham desaparecido. Alguém os levou, por brincadeira.
E o senhor ria-se, achando graça à partida que lhe tinham pregado. A mulher é que não se conformava:
- Perdes tudo! Qualquer dia até perdes a cabeça. E não é que a perdeu mesmo?
Umas vizinhas lá de casa vieram dizer à mulher:
- O seu marido, calcule, perdeu a cabeça. Trazemo-la aqui, quer ver?
Era mesmo. Os olhos azuis... Os óculos de aros redondos... E o sorriso de sempre.

- Estamos bem aviados - disse a mulher. - Se ele, com cabeça, era tão distraído, sem cabeça não sei como vai ser...
Mas um homem sem cabeça acaba sempre por dar nas vistas. Trouxeram-no à mulher. Só havia um problema. A cabeça não encaixava.
- Este não é o meu marido. Deve ser outro, que também perdeu a cabeça.
Pois era. E havia mais. Bastantes! Quando por fim lhe apareceu o marido e a cabeça voltou ao seu lugar, a mulher não barafustou nem se ralou muito.
Encolheu os ombros. Afinal havia mais distraídos do que ela julgava..."


António Torrado, in Da rua do contador para a rua do ouvidor (pp 13-15)

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Uma lenda da Vila de Mértola

Vamos pesquisar!


Aos leitores deste blogue proponho que façam uma pequena pesquisa e tentem encontrar uma lenda ou lendas da Vila de Mértola ou de aldeias do concelho. Fica aqui o desafio e aguardo a vossa participação.