quarta-feira, 4 de junho de 2008

Zé Pimpão «o Acelera»- Parte II


Sempre, sempre a acelerar,
foi erguendo a sua fama:
«ó malta, eu sou maior
e comigo não há drama!»

Na estrada, de prego a fundo,
cuidados tinha tão poucos
que os outros a protestar,
depressa ficavam roucos.

Mas ele não se importava
pois já não era o Pimpão,
dera a si mesmo o título
de invencível campeão.

E os outros não contavam,
só lá estavam para estorvar
e, se ao volante iam mulheres,
tratava de as insultar:

“Ó lesma, ó azelha,
vê lá se sais do caminho,
pois a estrada é dos ases
como aqui o rapazinho!”

Pela janela do carro
tudo podia sair,
desde latas de cerveja
até pregos de faquir.

A estrada era a lixeira
do nosso Zé Pimpão,
quem quisesse que limpasse,
de certeza ele é que não.

Guardar o lixo no carro
era coisa mal cheirosa
e deitá-lo num contentor
era tarefa pouco honrosa.

Por isso abria a janela
e « atenção, lá vai disto!»
tinha quase a pontaria
de um lançador de disco.

Até numa auto-estrada,
quando ia em viagem,
queria ser o campeão
em cada ultrapassagem.

E se a brigada de trânsito
aparecia no caminho,
abrandava logo a marcha,
mas só por um bocadinho.

E, pelo sim pelo não,
avisava outros passantes
fazendo sinais de luzes,
mesmo para os mais distantes.

Até nisso se sentia
um valente campeão
nessa arte de avisar
companheiros de condução,

E mal passava um perigo
lá voltava a acelerar
que a estrada era só dele,
mesmo se fosse a passear.

Limites de velocidade
para ele nunca contavam,
só serviam para as «lesmas»
que na estrada o atrasavam.

E nas passagens de peões,
era raro vê-lo parar,
quem ia a pé que esperasse,
que o Pimpão queria passar.

E quanto à prioridade
de quem vinha da direita,
só era para respeitar
se houvesse polícia à espreita.

E lá comos seus botões,
de pé no acelerador,
o Pimpão ria e dizia:
«Cá o rapaz é o maior!»

Em ralis nunca entrou
mas sabia prometer
que, no dia em que entrasse,
seria só para vencer.

O carro era o seu mundo,
o volante a sua amada,
o insulto a sua arma
e a buzina a sua espada.

A guiar não tinha par
sentia-se um campeão
e, ao meter as mudanças,
acelerava o coração.

José Jorge Letria, Zé Pimpão «O Acelera», Terramar

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