A professora empunhou o ponteiro, começou a explicar a matéria. Simplesmente era impossível ouvi-la. Levantou a voz. Que ruído ensurdecedor abafava a escola?
As crianças saíam dos lugares e assomavam às janelas. A professora seguiu-as. O que viu deixou-a de boca aberta: um disco voador rodopiava sobre as casas, cada vez mais baixo, aproximava-se, parecia preparar-se para descer no pátio do recreio.
- Deixe-nos sair...
- Nem pensar nisso! - exclamou ela.
- Mas deixou-nos sair quando caiu neve e os discos voadores são muito mais raros que a neve.
- Nem pensar nisso!
- Deixe-nos entrevistar o comandante para o jornal da escola. Que reportagem sensacional!
Ela deu meia volta à chave para se assegurar de que dali ninguém escapava e postou-se, tremendo de nervos e de curiosidade, em frente dos vidros, à espera do que viesse a acontecer.
Entretanto a notícia corria.
O radar do aeroporto foi o primeiro a dar o alerta.
Todos os postos de rádio interromperam a emissão para divulgar um breve comunicado;
- Objecto voador não identificado baixa sobre Lisboa. Dirige-se para o Lumiar.
- Virá directamente para os nossos estúdios, para o apresentarmos ao país? – interrogavam-se os homens da televisão.
- Virá declarar guerra? – interrogavam-se os militares do quartel.
- Virá com doentes a bordo para os tratarmos? –interrogavam-se os médicos do hospital.
Mas não.
Acabou pura e simplesmente por aterrar no pátio da escola.
- Vocês faltam tantas vezes sem razão e os marcianos parece que gostam de vir para a escola - comentou a professora.
- Pergunte-lhes a tabuada! – galhofavam uns.
- Ensine-lhes a História de Portugal - riam outros.
Os meninos mais medricas escondiam-se por debaixo das cadeiras e a Joana pegava em papel e lápis para desenhar a nave fluorescente que continuava fechada e silenciosa.
Entretanto os curiosos abandonavam casas, lojas, escritórios, para se colarem ao gradeamento.
O Ministro do Turismo, chegado à pressa, anunciava:
- Viajantes extraterrestres, um autocarro de luxo está à vossa disposição para visitarem os monumentos de Lisboa. Façam turismo! Tragam gente de todos os planetas para passar férias em Portugal!
Um cozinheiro fardado resolveu imitá-lo com a sua propaganda.
- Senhores marcianos, provem os melhores frangos no churrasco! Batatinhas fritas a estalar no restaurante da esquina!
Mas a nave continuava hermeticamente fechada.
Luísa Ducla Soares, «O Disco Voador» (adaptado)
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