terça-feira, 22 de abril de 2008

"O homem que não queria sonhar e outras histórias"

Eu sou a Mª João, membro do Clube de Leitura, e li a obra "O homem que não queria sonhar e outras histórias" de Álvaro Magalhães.

Recomendo a leitura deste livro e aqui fica a história que mais gostei.

O homem que não queria sonhar

Era uma vez um homem que não queria sonhar. Achava que não devia perder tempo com coisas que, na sua opinião, não existiam ou não podiam acontecer.
- Sonhos são ilusões. Para que me servem? – Disse ele, certa vez, acrescentando: - Se fossem verdadeiros ou se se tornassem reais de manhã, quando acordamos, ainda valia a pena perder tempo com sonhos.
No mesmo instante em que ele pronunciou estas palavras, ouviu-se uma voz:
- É isso que tu queres?
O homem assustou-se, mas como não queria perder aquela oportunidade, gaguejou:
-É…é claro que é…
-Então, eu dou-te esse poder – disse-lhe o senhor do Dia e da Noite.
O homem ficou tão contente e tão ansioso que s e foi deitar mais cedo nessa noite e mal adormeceu sonhou com uma coisa que sempre desejou possuir: uma carruagem.
E no dia seguinte teve uma carruagem.
Depois quis ter uma carruagem maior, um barco e uma casa.
E teve uma carruagem maior, um barco e uma casa.
E depois teve um jardim e um lago, mil barras de ouro e um palácio de mármore e jade, e um grande exército para o servir, e tornou-se um dos homens mais ricos e poderosos de todo o mundo apenas porque foi capaz de sonhar durante a noite com tudo isso.
Mais tarde ainda foi nomeado Imperador do seu país e teve mais riquezas e honrarias do que qualquer outro homem, mas não se deu por satisfeito e continuou à procura de mais qualquer coisa. E não parava de sonhar.
Certa noite, porém, adormeceu de repente e sonhou que tinha morrido. Ao princípio não se preocupou, já que se tratava apenas de um sonho, mas depois lembrou-se que todos os sonhos se realizavam na manhã seguinte, e ele morreria se realmente acordasse.
Fez então um grande esforço para continuar adormecido, embora isso lhe custasse o afastamento de todas as coisas boas que poderia ter ou fazer se estivesse acordado. Embora elas lhe pertencessem, agora só podia pensar nelas, sonhar com elas. Mesmo assim deixou-se estar e não quis acordar.
E assim ficou para sempre, adormecido, prisioneiro do seu próprio sonho.
Nunca mais acordou. Nunca mais acordará.




Álvaro Magalhães, O homem que não queria sonhar e outras histórias, edições ASA

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