terça-feira, 6 de maio de 2008

A floresta



II


Era no mês de Outubro, num sábado à tarde. Nos sábados à tarde Isabel não tinha aulas.
Por isso, mal acabou o almoço, saiu par a quinta.
O tempo estava ainda muito quente e nem uma erva bulia.
Isabel dirigiu-se para um pequeno bosque que ficava perto da casa.
Era um lugar muito solitário onde nunca passava ninguém.
Mesmo o jardineiro era raro ali ir pois naquele lugar tudo crescia selvagem e não havia canteiros nem flores.
O chão estava todo coberto de musgo e das altas copas das árvores descia uma sombra trémula atravessada aqui e além por raios doirados de sol.
Isabel estendeu-se ao comprido no chão junto dum carvalho e começou a ler. Mas o livro maçou-a e ao fim de um quarto de hora ela pousou-o a seu lado e começou a olhar um carreiro de formigas que avançando através de musgo se dirigia para um buraco que ficava perto da árvore. Então o olhar de Isabel pousou no tronco do carvalho. Era escuro, enorme e rugoso e seriam precisos três homens para o abraçar. As raízes saindo um pouco da terra formavam arcos e cavidades que lembravam pequenas cavernas.- Um sítio bom para morarem anões - pensou Isabel.
Este pensamento interessou-a extraordinariamente.
Aos sete anos, logo que tinha aprendido a ler, Isabel tinha lido a história da Branca de Neve e dos Sete Anões. Pensava muitas vezes nessa história. Parecia-lhe que viver entre anões devia ser uma coisa maravilhosa. Imaginava as casas dos anões, os seus palácios enterrados na terra como as luras dos coelhos ou escondidos em lugares solitários, dentro do tronco das árvores.
- Queria ver um anão - pediu ela à sua criada Mariana.
- Não há anões: isso são histórias que vêm nos livros - respondeu Mariana.
Mas Isabel não acreditou.
Durante meses procurou os anões entre as pedras e as plantas e as ervas do parque. Mas nunca encontrou nenhum. Por isso acabou por se convencer de que Marina tinha razão.
Mas agora, em frente das raízes do velho tronco, pensava:
- É pena não haver anões. Podia-se fazer aqui uma casa, óptima para anões.
E tendo meditado alguns momentos resolveu fazer ali uma casa pequenina e imaginar que os anões viriam morar nela.
[...]

Sophia de Mello Breyner Andersen, A Floresta, Figueirinhas

Sem comentários:

Enviar um comentário

Obrigada pelo seu comentário!