
Ao sair de casa, naquela manhã, Leopoldo sabia que já não voltaria atrás. O dia anterior tinha sido o do seu aniversário e tinha sido um dia tristíssimo. Tinha pedido como prenda uma coisa que queria havia já tanto tempo: umas sapatilhas, uma vez que apesar de viver na cidade, gostava imenso de correr. Quando corria sentia o ar bater-lhe na cara e sentia-se feliz. Porém, tinha poucas ocasiões para correr. Tantos dos seus colegas de escola, aos fins-de-semana, iam com os pais para o campo, mas ele não. Nem o pai nem a mãe gostavam de sair da cidade; assim, todos os seus tempos livres eram passados em casa a ler.
Desde que nascera que, pelo seu aniversário, não tinha recebido senão livros. Primeiro, livros fofos de pano, depois, livros com grandes desenhos e poucas palavras, depois ainda livros, mas com muitas palavras e poucos desenhos. Da sua cama, ao erguer o olhar, não conseguia ver senão estantes cheias de livros, não havendo sequer um que ele tivesse desejado.
No ano anterior, a mãe preocupada com os seus péssimos resultados escolares, tinha-o inclusivamente levado a um psicólogo. Este tinha-lhe feito imensas perguntas, tinha-o feito brincar com uns cubinhos de plástico e depois, no fim, tinha dito:
- Papirofobia, mais um caso de papirofobia.
- Papirofobia?! – tinha repetido a mãe, alarmada, e aí o psicólogo tinha-lhe explicado que se tratava de um problema recentíssimo e em rápida expansão: os primeiros casos tinham sido registados nos Estados Unidos dez anos antes e, de lá, como uma epidemia invisível, tinha invadido o mundo civilizado.
- A culpa, minha senhora – dissera ele, enquanto os acompanhava até à porta -, é da televisão, dos jogos de vídeo. Tire-lhos, obrigue-o a ler, a usar a cabeça e em poucos meses hão-de notar-se incríveis melhoras.
Ao ouvir tais palavras, Leopoldo bem gostaria de protestar mas, mesmo que o tivesse feito, teria sido completamente inútil porque, entretanto, já se encontravam no patamar e o psicólogo tinha desaparecido atrás da porta.
- Mas eu pouca televisão vejo. – dissera Leopoldo ao entrar para o carro.
- Ouviste o psicólogo, não ouviste? – respondera a mãe. Vê-se que até esse pouco te faz mal.
- E nunca tive um único jogo de vídeo!
-Eu sei lá o que tu fazes na escola! Se calhar, em vez de estudares, passas horas e horas agarrado aos jogos dos teus colegas. – dissera a mãe encolhendo os ombros.
Susanna Tamaro, "O Menino que não gostava de ler", Editorial Presença
isto esta no livro do 6º ano
ResponderEliminarTenho este texto no meu livro de 6ºano (Português em Linha)
ResponderEliminarsim, eu tambem tenho!
ResponderEliminarvc e legal anonimo me passa seu eail eu tambem sou do 6 ano
ResponderEliminarmeu nome e gabi bota uma foto
eu amei esse livro,eu gostei tanto que eu comprei um
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