sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Um caso de papirofobia



Ao sair de casa, naquela manhã, Leopoldo sabia que já não voltaria atrás. O dia anterior tinha sido o do seu aniversário e tinha sido um dia tristíssimo. Tinha pedido como prenda uma coisa que queria havia já tanto tempo: umas sapatilhas, uma vez que apesar de viver na cidade, gostava imenso de correr. Quando corria sentia o ar bater-lhe na cara e sentia-se feliz. Porém, tinha poucas ocasiões para correr. Tantos dos seus colegas de escola, aos fins-de-semana, iam com os pais para o campo, mas ele não. Nem o pai nem a mãe gostavam de sair da cidade; assim, todos os seus tempos livres eram passados em casa a ler.
Desde que nascera que, pelo seu aniversário, não tinha recebido senão livros. Primeiro, livros fofos de pano, depois, livros com grandes desenhos e poucas palavras, depois ainda livros, mas com muitas palavras e poucos desenhos. Da sua cama, ao erguer o olhar, não conseguia ver senão estantes cheias de livros, não havendo sequer um que ele tivesse desejado.
No ano anterior, a mãe preocupada com os seus péssimos resultados escolares, tinha-o inclusivamente levado a um psicólogo. Este tinha-lhe feito imensas perguntas, tinha-o feito brincar com uns cubinhos de plástico e depois, no fim, tinha dito:
- Papirofobia, mais um caso de papirofobia.
- Papirofobia?! – tinha repetido a mãe, alarmada, e aí o psicólogo tinha-lhe explicado que se tratava de um problema recentíssimo e em rápida expansão: os primeiros casos tinham sido registados nos Estados Unidos dez anos antes e, de lá, como uma epidemia invisível, tinha invadido o mundo civilizado.
- A culpa, minha senhora – dissera ele, enquanto os acompanhava até à porta -, é da televisão, dos jogos de vídeo. Tire-lhos, obrigue-o a ler, a usar a cabeça e em poucos meses hão-de notar-se incríveis melhoras.
Ao ouvir tais palavras, Leopoldo bem gostaria de protestar mas, mesmo que o tivesse feito, teria sido completamente inútil porque, entretanto, já se encontravam no patamar e o psicólogo tinha desaparecido atrás da porta.
- Mas eu pouca televisão vejo. – dissera Leopoldo ao entrar para o carro.
- Ouviste o psicólogo, não ouviste? – respondera a mãe. Vê-se que até esse pouco te faz mal.
- E nunca tive um único jogo de vídeo!
-Eu sei lá o que tu fazes na escola! Se calhar, em vez de estudares, passas horas e horas agarrado aos jogos dos teus colegas. – dissera a mãe encolhendo os ombros.

Susanna Tamaro, "O Menino que não gostava de ler", Editorial Presença

5 comentários:

  1. isto esta no livro do 6º ano

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  2. Tenho este texto no meu livro de 6ºano (Português em Linha)

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  3. vc e legal anonimo me passa seu eail eu tambem sou do 6 ano
    meu nome e gabi bota uma foto

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  4. eu amei esse livro,eu gostei tanto que eu comprei um

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