quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Primeiro dia de aulas


Nunca esquecerei o meu primeiro dia de aulas.
Além de minha mãe, também a tia Tilde e a avó quiserem acompanhar-me. O meu pai tinha-lhes dito: «Vão fazer com que ele pareça um palerminha!» Mas nada feito. Eles responderam-lhe:
- Vamos ver como é o ambiente.
Quando chegamos à entrada da sala do primeiro D, havia uma espécie de revolução: o contínuo ia de vez em quando à porta para gritar ameaças e, lá dentro, os rapazes faziam um escabeche medonho.
- Mas então os professores não estão? – perguntou a minha mãe, já inquieta.
- Foram chamados ao director para receber instruções. Mas deixe-o entrar, eu estou aqui a vigiar.
A minha mãe não se decidia a largar a minha mão. Já estávamos à porta da aula, e os meus colegas viram a cena toda: eu à frente, agarrado à mamã, e atrás de nós as caras da tia Tilde e da avó, a examinar tudo com muita curiosidade.
Por fim, a minha mãe deu-me a pasta e disse-me:
- Adeus, Adalberto. Boa Sorte.
E baixou-se para me dar um beijo.
Eu já tinha percebido que aquela ocasião não era para beijinhos. A minha mãe, ainda vá; mas o trágico é que a tia Tilde e da avó também se baixaram para me beijar e me fazer as últimas recomendações.
E então ergueu-se na sala de aula uma espécie de uivo:
- Uhuuuuuuu!!!
A Tia Tilde saltou como impelida por uma mola:
- Que malcriados!!
Mas eu senti que os joelhos me tremiam de vergonha.
Será possível que não percebem que já não estou na incubadora?
Entrei na sala vermelho que nem um tomate, mas o João salvou-me.
Eh, Adalberto! Anda para aqui que guardei o lugar.
E depois, virando-se para os outros, preveniu:
- Adalberto é meu amigo.
E bem disse bem, como um chefe pode dizer, e os outros ficaram calados.


Ângela, Casari, As memórias de Adalberto, Caminho

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