quinta-feira, 8 de maio de 2008

A Floresta

III


[...]
Saltando e correndo Isabel dirigiu-se para o pequeno bosque. Ia tão apressada que nem se lembrava de comer o pão que levava na mão. Ia cheia de curiosidade e de medo pois temia que alguém tivesse destruído a sua obra.
Mas quando chegou em frente ao velho tronco sorriu de alegria. A casa estava intacta com o telhado da casca de plátano muito bem coberto de musgo e a porta de cana muito bem fechada. Tinha um ar extraordinariamente sossegado e confortável.
Isabel ajoelhou-se no chão e com cuidado abriu a porta.
Aquilo que viu deixou-a imóvel, muda, com a boca aberta, com os olhos esbugalhados e as mãos erguidas e abertas no ar.
Durante alguns momentos o seu espanto foi tão grande que nem se podia mexer, nem podia pensar no que via.
Depois, devagar, esfregou os olhos. Abriu-os muito e murmurou:
- Estou a sonhar!Pois dentro da casa tinha acontecido um coisa extraordinária e incrível:
Em cima da cama estava deitado um verdadeiro anão.
Esse anão dormia. E dormia tão profundamente que até ressonava. A sua cara era vermelha como um morango e as pontas da sua longa barba tocavam o chão.
No meio do seu espanto Isabel sentiu uma grande alegria e uma grande ternura. Pensando bem parecia-lhe que durante toda a sua vida tinha estado sempre à espera daquele anão. Encontrá-lo agora, ali, era uma coisa extraordinária mas também muito simples.
[...]

Sophia de Mello Breyner Andersen, A Floresta, Figueirinhas

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