No reino da Pasmaceira nada acontecia.
As pessoas faziam todas os mesmos gestos, as mesmas expressões, tinham os mesmos sorrisos, num hábito sonolento e mole. O Rei dava sempre as mesmas audiências, as mesmas ordens aos mesmos ministros, que as aceitavam em reverências servis, sempre iguais, sempre as mesmas.
A certa altura começaram a acontecer coisas extraordinárias. Foi como que uma lufada de ar fresco, que agitou tudo e todos.
Apareceu uma mosca pintada no imponente nariz do retrato de Senhor Comendador, o que surpreendeu e escandalizou toda a gente.
O capachinho do boticário, por vezes levantava e baixava como um chapéu, cumprimentando para a direita e para a esquerda, perante a aflição do pobre homem, que não sabia como sair de tal situação, enquanto os que por ele passavam, riam a bom rir.
No coro da igreja, a Elsinha desafinou várias vezes, ela que tinha sempre a voz tão afinadinha!...
No açucareiro do sapateiro, em vez de açúcar apareceu sal!...
Quem seria, quem não seria, toda a gente andava intrigada e desejosa de descobrir o autor das proezas, mas por mais esforços que fizesse, nada conseguia.
Com todos estas situações imprevistas, o interesse geral pelo desenrolar dos acontecimentos era cada vez maior e as pessoas, quando se encontravam nas ruas comentavam esses estranhos acontecimentos.
Chegaram a marcar reuniões para se discutir o que tinha acontecido e o que poderia talvez vir a acontecer.
As crianças nas suas brincadeiras, tentavam imitar essas “partidas”, o que lhes dava mais vivacidade.
Um dia, o rei encontrou um rato no sapato. Deu-lhe um pontapé e, os criados ao verem o bicho às cambalhotas no ar fugiram atrapalhados, receando que lhes caísse em cima, enquanto os ministros, que esperavam para serem recebidos, riam a bom rir...
E foi a vez de o rei soltar sonoras gargalhadas.
A que se devia, afinal, esta transformação radical no reino da Pasmaceira?
Um mini duende, pequenino como uma abelhinha, tinha resolvido fazer das suas...
E enquanto, o rei mandava decretar que a partir desse dia o reino passaria a chamar-se Reino da Alegria ela, escondida entre as pétalas duma rosinha, ria, ria, ria...
Renata Gil
In Boletim Cultural da Fundação Calouste Gulbenkian
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