A fada deslizou pela estreita garganta da baleia, aflita por não ver sequer uma pontinha de luz que a pudesse orientar no meio daquela escuridão terrível e daquele cheiro a cera de velas queimadas.
Depois de descer uma longa rampa, caiu num enorme buraco negro, onde, ao fim de uns minutos, ouviu uma voz que lhe era familiar. Era a voz da bruxa Cesaltina que no dia anterior tinha ido, para se refrescar, molhar os pés numa praia que havia perto da sua cabana.
- Também aqui estás?- disse a fada.
- E agora como vamos fazer para sair daqui?- inquiriu a fada.
- Boa pergunta, boa pergunta! Eu cá não sei ao certo a resposta mas acho que temos de esquecer que somos inimigas e juntar as nossas magias para vencermos a baleia que nos engoliu.
No escuro imenso da barriga da baleia levaram horas e mais horas a pensar, sem saberem se lá fora era noite se era dia, se o tempo passava ou se estava parado.
Foi a fada a primeira a romper o silêncio com uma proposta que pareceu boa a ambas:
- E se transformássemos a baleia em golfinho? Os golfinhos são amigos de toda a gente...
- Boa ideia, boa ideia!- respondeu a outra.
Juntaram-se muito juntinhas no escuro e pronunciaram em uníssono todas as palavras mágicas que sabiam. Depois de as terem dito, uma a uma, deram-se conta de que tudo estremecia à sua volta. Ficaram atordoadas com os estrondos e com os abanões e quando se deram de novo conta do que se estava a passar perceberam que era na barriga de um golfinho que estavam.
O golfinho disse-lhes palavras amigas como estas:
- Não se assustem que as vou levar a um sítio seguro.
E cumpriu o prometido. Deixou-as, passadas umas horas, numa praia de areia macia e morna e de água límpida. Foi aí que decidiram construir uma cabana para passarem juntas o resto dos seus dias.
José Jorge Letria, Fadas contadas, Câmara Municipal de Sintra
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